| Foto: Oswaldo Corneti/Fotos Públicas

Ao ler o noticiário, parece que a maioria dos paulistanos está muito revoltada com o fato de o prefeito João Doria cobrir os grafites e pichações nos Arcos do Jânio e na Avenida 23 de Maio com tinta cinza. Evidentemente, os pichadores e grafiteiros não gostaram muito da medida; nem o pessoal à esquerda, que endossa uma “estética do oprimido”, “da periferia”,“revolucionária” que, trocando em miúdos, significa uma “arte” que reafirma os padrões estéticos das favelas. Só que, acredito eu, se perguntássemos aos moradores desses locais se prefeririam morar em um bairro bonito, que ostenta outro padrão estético, em vez de onde moram, a grande maioria diria que sim. Por uma razão simples: as pessoas sabem o que é belo e o que não é. Infelizmente, cercar-se de coisas belas pode custar muito dinheiro. Nem por isso é necessário transformar a feiura num valor artístico, como se isso fizesse com que o pobre da periferia se sentisse “menos excluído”. Ora, menos excluído ele seria se lhe fosse apresentado Bach e Beethoven, Rubens e Van Gogh, Shakespeare e Goethe, e a lista segue. Também é uma forma de integrar o pobre na sociedade embelezando os espaços em que ele mora e que ele frequenta: precisamente a intenção do prefeito Doria. E, antes que os apressadinhos venham com o papo do “cinza”, o projeto de Doria inclui a instalação de um “paredão verde” na 23 de Maio, com trepadeiras e outras plantas, e espaços específicos para painéis de artistas, porque de fato há bons grafiteiros que fazem um belo trabalho, dominam a técnica do desenho e da pintura e têm bom gosto – mas não são todos. Flávio Morgenstern discute a falsa polêmica acerca dessa medida para a revitalização da cidade de São Paulo.

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Ossos do ofício

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A rebeldia dos pichadores e grafiteiros, que saem por aí depredando patrimônio alheio, casa bem com o espírito revolucionário esquerdista que inverte o valor das coisas, justificando-se pela luta de classes: “tudo o que é tradicionalmente bonito é elitista”. Junte a isso altas doses de desconstrucionismo, vindo direto das ilustres mentes acadêmicas, e o resultado é que “o feio de ontem é o bonito de hoje”. Dá para entender por que universitários e pichadores se amam. Claro que estou fazendo generalizações. Por exemplo: um grafiteiro que teve um painel seu pintado de cinza na Avenida 23 de Maio foi bastante sincero ao afirmar que quem faz esse tipo de “arte subversiva” não pode exigir da administração pública que tutele as suas “obras”. Se o ponto da pichação/grafite fosse apenas a imagem, e não também a violação de bem público ou de terceiro, o camarada pintava numa tela. Sendo assim, faz parte dos “riscos da atividade” ser preso e ter a sua “obra” recoberta.

Protestos deselegantes de gente elegante

Recentemente, um jovem bem nascido, filho de diplomata, foi pego depredando o monumento a São Paulo na Praça da Sé porque estava protestando contra o governo Doria. Ele nos ofereceu um bom retrato do perfil de pessoas que desaprovam a limpeza da cidade nos moldes propostos pelo novo prefeito. O jovem demonstrou toda a sua consciência social, mas é claro que quem teve de limpar a lambança que ele fez foi um trabalhador da prefeitura, um homem simples que não deve entender como está sendo beneficiado pelos protestos como o desse rapaz. Rodrigo Constantino comenta o caso.

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Por que a beleza importa

A beleza, por mais que não seja matematizável, é apreensível de um modo geral, e até razoavelmente consensual se pegarmos por exemplo extremos de beleza (e de feiura, no revés). Claro que há muito pano para manga em matéria de discussões sobre estética. Mas uma coisa que é até sociologicamente verificável é o quanto a beleza induz bons comportamentos morais. O trio “bom, belo e verdadeiro” compreende expressões distintas de um sumo bem. Não é por mera frivolidade que Doria está investindo no embelezamento de São Paulo. Veja o comentário de Gabriel Ferreira sobre o livro e documentário de Roger Scruton Por que a beleza importa.