Estamos acostumados a culpar políticos por todos os males que assolam a nação. Mas eles, normalmente, são só a ponta do iceberg – uma ponta capaz de afundar navios, mas só a ponta. Se é verdade a máxima que diz que “cada povo tem o governante que merece”, até mesmo a dinâmica do poder não foge aos ditames da cultura. Portanto, para entendermos por que um país vai mal, antes de olharmos para a classe política devemos prestar atenção no perfil da elite intelectual que está atuando nos meios culturais. Intelectuais são pessoas que se dedicam a entender a realidade (nem que seja para negá-la posteriormente) e a transmitir seus conhecimentos aos demais. Podem parecer completamente inúteis e desligados do mundo real (podem ser, inclusive), mas são essas pessoinhas que estão por aí formando o imaginário da nação, lecionando em escolas e universidades, informando e comentando notícias, delimitando os termos de compreensão dos acontecimentos e apontando soluções possíveis para problemas diversos. Acontece que há por aí intelectuais aos montes que se tornaram indolentes, cínicos e por fim idiotas – talvez porque limitam-se a prestar contas de ideias e não de ações cujos efeitos podem ser facilmente identificados, e ainda desfrutam de um enorme prestígio perante a sociedade. Martim Vasques da Cunha parte de reflexões de Robert Musil, Roger Kimball, Nassim Nicholas Taleb e outros para fazer uma (auto)crítica à estupidez que facilmente acomete os inteligentes. Conclui: “a humildade de entender que sabemos muito pouco e a responsabilidade para assumir as consequências dos nossos atos são os dois pilares de sabedoria que ajudariam a manter a atual sociedade um pouco mais saudável. O estúpido inteligente é, na verdade, alguém que só entra no jogo do poder porque se importa com a sua reputação”.
O legado da cegueira
Luiz Felipe Pondé chama de “inteligentinhos” pessoas que se enxergam como representantes de uma mentalidade mais evoluída, mas que moldaram sua inteligência e percepção segundo as ideias mais bizarras dessa nossa era de confortos: grosso modo, estão preocupadas com um mundo melhor, são ecologicamente corretas, politicamente corretas, sexualmente corretas, e seguem os modismos ideológicos dos “intellectuals yet idiots” de que falava Nassim Nicholas Taleb. Essas pessoas estão imersas na neurose generalizada do nosso tempo – todos estamos – mas sem a menor consciência disso. Pondé aborda o tema da modernidade sem afetação de “progresso social” e revelando a histeria coletiva.
Roger Scruton
Um intelectual digno da nobreza da vocação: esse é Roger Scruton. Filósofo, analista político, crítico cultural, escritor, músico, e excepcional em todas essas atividades. Scruton não é um diletante. Em seus livros, é perceptível que cada análise parte de um esforço sincero de conhecer a verdade; o que se vê, por exemplo, quando ele busca entender o que há de verdadeiro no nacionalismo, no socialismo, no capitalismo, no liberalismo, no multiculturalismo, no ambientalismo, no internacionalismo, no conservadorismo (questões abordadas na obra “Como ser um conservador”). Scruton não simplifica a realidade e sua franqueza pode ofender os “inteligentinhos”. Além disso, ele procura viver de modo coerente, asseguram aqueles que com ele convivem. Neste ensaio para a New Criterion, Daniel J. Mahoney fala sobre Scruton e sua obra, partindo dos diálogos entre o filósofo e o jornalista Mark Dooley.