| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Em três anos de Lava Jato, tantos escândalos de corrupção foram revelados – um mais abrangente que o outro – que fica fácil se perder em meio às informações, inclusive para cair na conversa dos implicados, que tentam se limpar a todo custo. Alan Ghani faz um resumão sobre como funcionava o esquema de propinas e de compra de políticos, quem são os investigados da lista de Fachin, e explica por que Temer não está nessa lista.

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Lula estratégico, mas nem tanto

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É verdade que, em seu primeiro mandato, Lula manteve as políticas econômicas do tempo de FHC, mais “liberais”. Mas não se iluda: isso não sinalizava uma mudança ideológica, ou melhor, uma rendição do então presidente ao “grande capital”. Lula executou, passo a passo, uma estratégia para fixar a esquerda no poder – muito bem bolada, diga-se de passagem – que, num primeiro momento, acalmava o mercado, sinalizando que manteria a economia “aberta”. Na verdade, o presidente em seguida jogou o liberalismo econômico no lixo quando decidiu beneficiar as empresas amigas, em troca, é claro, do pagamento de propinas para financiar tudo o que interessasse a ele e aos seus – campanhas eleitorais, votos no Congresso, uma vida nababesca para o alto escalão do PT etc. Enquanto isso, sob a aparência de normalidade institucional, Lula e depois Dilma guinaram à esquerda, em todos os setores: social, econômico e político. O plano era bom, mas os petistas erraram por ir com muita sede ao pote e propinaram muito mais do que eram capazes de esconder. Como sabemos pelas atas do Foro de São Paulo, um de seus projetos era o de criar uma grande nação latino-americana, nos moldes bolivarianos, a “Pátria Grande”. E, operando nessa lógica, os governos petistas já financiavam obras em países socialistas vizinhos via BNDES. Agora que as falcatruas do PT já são amplamente conhecidas no mundo todo, o ex-ministro de energia do Equador foi preso por subornos pagos à Odebrecht.

Idiotas úteis

A economia completamente estatizada não funcionou em país socialista nenhum. Ou seja, não demorou muito até os governos socialistas perceberem que precisavam do financiamento de grandes empresas para sobreviver. Isso aconteceu com todos, e não só com Lula. Nesse sistema, os grandes empresários, como Léo Pinheiro, Marcelo Odebrecht e Eike Batista, são idiotas úteis que financiam um projeto de poder nefasto em troca de benesses para sua empresa. É muito claro, nessa situação, que o poder econômico está subordinado ao poder político; enquanto Odebrecht e tutti quanti estavam interessados na prosperidade de seus negócios – convenhamos, uma pretensão bem mesquinha e pontual –, Lula e seus amigos arquitetavam um novo desenho geopolítico para a América Latina, planejavam como ficariam no poder em caráter definitivo, e que pautas ideológicas levariam adiante. Quem tem maior horizonte de consciência nessa história? Lula ou Odebrecht, quem domina quem? Ora, até pelo que foi narrado nas delações, a resposta é evidente. Pois bem: quando Leonardo Boff trata Lula como um traidor da “causa”, dá vontade de rir. Ele fez tudo pela “causa”.

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Ufa, não deu certo!

O governo petista apreciava tanto o bom funcionamento da democracia que, com base na narrativa do “é golpe”, planejava efetivamente dar o golpe ao decretar estado de defesa e transformar de vez o Brasil numa Venezuela, numa Coreia do Norte. Chegaram a sondar o apoio do Exército para tanto, mas o general Villas Bôas não endossou a palhaçada.