Estilistas famosos recusaram-se a vestir Melania Trump para o evento da posse de seu marido como o novo presidente dos Estados Unidos. Não bastasse as deselegantes recusas, ainda humilharam a primeira-dama citando os motivos pelos quais não gostariam de vê-la com um de seus vestidos. A pior das declarações foi do estilista Tom Ford, que disse que suas roupas eram “muito caras” para Melania. Ele depois tentou consertar, mas é evidente que rotulou a esposa de Trump como uma mulher “sem classe”, porque dinheiro a ela não falta. Contudo, elegância é a palavra que melhor descreve Melania, sobretudo no comportamento. Ela encarou as acusações de que seu marido cometeu abuso sexual, ouviu o país inteiro comentando as palavras de Trump gabando-se de pegar as mulheres “by the pussy”, pagou mico em rede nacional ao proferir um discurso (que, como de costume, não foi ela que redigiu) com trechos plagiados de uma fala pregressa de Michelle Obama, teve de ouvir jornalistas e figuras públicas caçoando do autismo de seu filho, tudo isso sem jamais atacar ninguém, dando apoio ao marido, enfrentando tudo com sorrisos e poucas palavras – o que mostra que é digna do posto que já pertenceu a Abigail Adams, Jackie Kennedy e Nancy Reagan. Além dos figurões da moda, as feministas americanas referem-se a Melania – que, ao contrário de Donald, nunca abriu a boca para propagar nenhuma polêmica – sem o menor respeito. João Pereira Coutinho comenta a ironia do episódio.
Kellyanne, a mulher guerreira
Kellyanne Conway, que foi a principal assessora da campanha de Trump e agora ocupa o cargo de conselheira do presidente, não faz o tipo “Melania”, mas é outra a quem se deve tirar o chapéu pela força e coragem. Depois de Ted Cruz perder nas primárias do GOP, Kellyanne passou a trabalhar para Trump, e antes disso já havia assessorado outros políticos republicanos em Washington. Mulher de origem pobre, fez-se na vida por conta própria. Na terra das oportunidades, também há espaço para as self made women. Conservadora, quatro filhos, advogada, fundadora de uma empresa de pesquisa e consultoria especializada no público feminino. É a típica mãe de família, só que “on steroids”, ou, se preferirem, “empoderada”. É uma comentarista política, conhecida por sua língua afiada, e empresária de sucesso, mas que não se furtou de construir uma vida familiar. Representa tantos as “soccer moms” americanas, quantos as mulheres de carreira. Imagino-a, inclusive, dando puxões de orelha em Donald Trump quando este sai da linha, bem ao estilo “bronca de mãe braba”. Na festa de posse de Trump, quando um convidado saiu no braço com outro, ela interferiu na briga e deu uma porrada no malcriado. Essa é Kellyane, outro tipo de mulher forte (nesse caso, até literalmente!). Vilma Gryzinski conta um pouco mais sobre a principal conselheira do presidente.
Feministas contra Trump
As feministas odeiam Donald Trump e tudo o que o cerca, inclusive Melania Trump e Kellyanne Conway. Que feminismo é esse que não se coloca ao lado de uma mulher que foi discriminada por estilistas pretensiosos? Que feminismo é esse que não reconhece que o presidente americano colocou num dos mais altos cargos de poder uma mulher? Ora, o repúdio a Melania e Kellyanne só ilustra a natureza do feminismo contemporâneo: pouco importa o que as mulheres desejam: se é ficar em casa cuidando dos filhos, como faz Melania, ou se é atuar na vida política, como faz Kellyanne. É tudo uma questão de proselitismo partidário, que se esconde atrás de um androgenismo ideológico extremamente autoritário. Sérgio Renato de Mello fala sobre a transformação sofrida pelo movimento feminista: de defensor da igualdade de tratamento e de oportunidades a homens e mulheres, para um grupo que prega o ódio a tudo o que recorda que homens são homens, e mulheres são mulheres.
Deixe sua opinião