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 | Leco de Sousa/Reprodução Instagram
| Foto: Leco de Sousa/Reprodução Instagram

Não se iluda: “Eu escolhi você”, o novo clipe de Clarice Falcão – todo ele uma sucessão de closes em genitálias e bundas –, não tem a intenção anunciada pela cantora de “celebrar o corpo humano”. Até acredito que tinha a intenção, como antecipava um twit de Clarice, de “chocar a família brasileira”, para o que ela falhou retumbantemente, porque não há nada de mais batido do que a nudez na arte, e, particularmente, do que a nudez nonsense na arte pretensiosa. Mas, sejamos realistas, a verdade é que o clipe não traz nenhum tipo de statement, é só uma estratégia de publicidade para fazer com que o nome da cantora aparecesse na timeline de todo mundo, nos jornais e blogs por toda a parte, para que ninguém esqueça que ela existe e assim a moça possa vender mais discos, fazer mais shows, estrelar em mais comerciais e ganhar dinheiro (Clarice? Imagina, ela não teria essas preocupações tão burguesas!). Considerando que seu vídeo foi rapidamente retirado do YouTube (como ela bem sabia que aconteceria, por causa da política da empresa relativa à nudez e ao conteúdo sexual), e a mídia progressista inteira saiu trombeteando “censura!”, o que coloca Clarice no rol badaladíssimo dos “artistas perseguidos”; e considerando que a máxima “falem bem, falem mal, mas falem de mim” diz muito sobre o que é prioridade para se manter na indústria do entretenimento, podemos dizer que Clarice foi bem sucedida, tanto que eu estou aqui falando desse clipe mequetrefe, que como manifestação artística terá a perenidade de um trend topic do dia. O maestro Tom Martins escancara a falta do que dizer em “Eu escolhi você”, mas concede ao clipe (generosamente, creio eu) o título de símbolo de uma geração mimada, histérica, ativista do playground.

A nova moda da agenda progressista: poliamor

Como dito acima, chocar a plateia é a estratégia mais velha do showbiz, não importando se o “artista” tem algo a dizer ou não. Por isso, “romper com tabus do sexo” sempre foi um bom modo de garantir público. E assim surgiu um casamento muito oportuno entre a indústria do entretenimento e a agenda política progressista da liberação sexual. O imaginário do homem ocidental começou a ser infestado de referências “libere geral e seja feliz”, com doses progressivas de imagens chocantes. E o brasileiro, em particular, ainda foi premiado com as sacanagens especialmente despudoradas presentes nas novelas da Globo, que têm contribuído para moldar a sensibilidade moral do povo. O tema da moda na TV é o “poliamor”. Rodrigo Constantino comenta o ridículo de tratar uma perversão sexual como “mais uma forma de amor”.

Bruno Tolentino sobre o sequestro da cultura brasileira

Em entrevista resgatada das páginas amarelas da Veja e divulgada pelo site Reaçonaria, o poeta Bruno Tolentino (um dos maiores e mais ignorados nomes da poesia brasileira) fala da casta de artistas do showbiz e de críticos encastelados nas universidades que resolveram que eram os donos da cultura nacional e começaram a ditar quem era e quem não era relevante no cenário, como se fossem o suprassumo da intelectualidade no país – o que de fato nunca foram.

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