Para que a criminalidade tenha atingido o nível surreal a que chegou no Brasil, com seus 60 mil homicídios por ano, que superaram a média anual de mortes na guerra do Iraque – dado que nos permite, sem nenhum alarmismo, constatar que vivemos em estado de guerra civil no país – não foi sem que a segurança pública tenha sido, quando não negligenciada, sistematicamente sabotada. A guarda das fronteiras do país (por onde passam armas, drogas e criminosos) foi reduzida a alegoria nos governos petistas, bem quando precisava ser reforçada. Apesar de serem ridículas as declarações oficiais sobre o que ocorreu nas recentes chacinas nos presídios em Manaus e Roraima, não é de hoje que vemos as autoridades brasileiras arranjando mil desculpas para não ter de enfrentar com firmeza o problema do crime no Brasil, e sendo respaldadas por um bando de intelectuais e juristas que se apressam em tomar partido dos criminosos, querendo menos repressão. O resultado é que esses criminosos, auxiliados pela omissão do Estado e pelo cinismo dos “formadores de opinião”, submeteram uma nação inteira ao seu poderio. Ninguém está seguro. Felipe Moura Brasil alerta para a existência de um indiferentismo quanto às fronteiras e comenta as ligações do PT com as FARC, principais fornecedores dos criminosos do país.
É o poder, tolinho
Organizações criminosas dedicadas ao tráfico de drogas não têm por objetivo principal ganhar muito dinheiro com uma atividade extremamente lucrativa que, por azar, é ilícita. Esse tipo de interpretação – tão corrente hoje, e que justifica para muitos a legalização das drogas como medida de combate à criminalidade – é de uma ingenuidade sem tamanho. Claro que lucrar com o comércio de drogas integra o rol de motivações para aderir ao crime. Mas, vejamos: os chefes do tráfico ganham, não raro, mais do que poderiam gastar numa vida, e arriscando a própria pele e liberdade no processo; e o que dizer dos traficantes de menor hierarquia dentro das facções, que ganham muito menos que seus superiores e arriscam muito mais na linha de frente dos combates? Não é só uma questão de desejar ter coisas, de ganância, de dinheiro “fácil” (que de fácil não tem nada). O crime organizado é, principalmente, uma questão de poder (se você não concorda, sugiro que veja a série Breaking Bad). E ter poder significa ter domínio sobre pessoas. Ainda que existam várias formas de poder, nenhuma é tão coercitiva quanto aquela que está a postos para tirar vidas. Facções como o PCC e as FARC não são equivalentes a empresas, mas a exércitos. E seus cabeças estão empenhados em construir impérios. Não à toa as FARC sugiram como milícia de esquerda, tornaram-se os maiores narcotraficantes do mundo, integraram o Foro de São Paulo e agora querem, com o acordo de paz na Colômbia, tornar-se oficialmente um partido político, para ampliar ainda mais sua forma de exercer poder. No Brasil, o PCC segue o mesmo caminho. Paulo Briguet, neste artigo, traduz o recado dado nas chacinas recentes nos presídios de Manaus e Roraima: nem o presídio, nem os inimigos poderão nos deter, nós fazemos o que queremos! E eles têm razão, dado que, até o momento, os criminosos estão vencendo a guerra.
Theodore Dalrymple sobre os presídios
Rodrigo Constantino traz como contraponto à visão de Frei Betto – que advogou em artigo recente n’O Globo a necessidade de tornar as prisões ambientes de ressocialização para os presos – os apontamentos do psiquiatra britânico Anthony Daniels, mais conhecido como Theodore Dalrymple, que já trabalhou como médico em presídios de seu país e tem vários apontamentos interessantes sobre a psique do criminoso e a função dos presídios.
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