Para quem não o conhece, vamos às apresentações: o britânico Theodore Dalrymple (pseudônimo de Anthony Daniels) é um dos principais expoentes do pensamento conservador no mundo atual. Seus escritos são uma reflexão a partir de tudo o que vivenciou em seu consultório psiquiátrico (particularmente quando atendia presidiários numa penitenciária em Londres), onde colheu uma quantidade enorme de histórias de vida, testemunhos de sofrimento e superação, e pode sondar os meandros da psique humana. Sua abordagem dos dramas existenciais passa pela observação do quanto, ao afagarmos nossos próprios sentimentos, perdemos a conexão com o mundo concreto e vivemos num mundo ilusório. O aprisionamento nesse mundo de ilusão é impingido por nós mesmos, mas a cultura moderna, ao reforçar a mensagem de “o importante é ser feliz”, é corresponsável por uma geração de pessoas frustradas e que se sentem vítimas de sua circunstância. O psiquiatra esteve recentemente no Brasil para o lançamento de seu livro “Não com um Estrondo, mas com um Gemido – A Política e a Cultura do Declínio”, e o analista político Flávio Morgenstern aproveitou a oportunidade para entrevista-lo a respeito de um tema que é exaustivamente debatido nos dias de hoje, mas não numa abordagem sincera e pragmática: a criminalidade, ou, mais especificamente, a relação da criminalidade com a pobreza e com a educação.
Dalrymple e as “amarras da mente”
A franqueza de Dalrymple é sua marca registrada. A impressão que o leitor tem ao debruçar-se sobre um de seus livros é de que ele dá voz ao que percebemos, mas que por alguma razão não admitimos. Sondando o comportamento das pessoas, evidencia o quanto estamos mergulhados numa sociedade que valoriza as paixões humanas em detrimento da racionalidade, que transfere a responsabilidade individual para fatores inúmeros que desoneram o indivíduo, mas que, no fim, acabam tornando-se um mal que nos consome. A saída no fim do túnel do sofrimento não aparece ao menos que as pessoas assumam o compromisso de serem mais realistas e verdadeiras. Em entrevista para Eliana de Castro, Dalrymple fala sobre diversos temas, incluindo as “amarras da mente” e qual foi sua motivação para escrever.
Dalrymple e a igualdade de oportunidade
Nesta palestra, o psiquiatra explica por que “igualdade” tornou-se uma espécie de fetiche da moral atual, mas que de forma alguma poderia ser um bem desejável em si mesmo. Isso porque em nome da “igualdade” operam-se distorções enormes da realidade, que, no campo da política, são o pretexto da tirania, e do ponto de vista da liberdade individual, são o cativeiro da consciência. Fala também do papel do ressentimento como motor do comportamento e, muitas vezes, da visão de mundo.
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