Desde que o homem é homem, expressa-se por meio da pintura, da música, da narrativa de histórias. Fazer arte sempre foi um meio de recriar a beleza e transmitir o legado de sabedoria de um povo. Por milênios vivemos assim – mesmo que a arte tenha mudado ao longo do tempo – até que, de décadas para cá, cruzamos a linha do belo no mundo das artes. A beleza tornou-se um tipo de adereço burguês que precisava ser combatido. Nascem a arte engajada, a arte abstrata, a arte conceitual e por aí vai. Realmente, o entendimento do que é arte precisou ser bastante flexibilizado para abranger A Fonte, de Duchamp, e todo o “objeto estético” (no linguajar técnico) que é retumbantemente feio ou absolutamente banal, mas que os críticos asseguram que é relevante. Hoje, todo o artista e todo o crítico que busque um lugar entre os pares sofrerá a pressão de adequação aos termos do que alguns iluminados determinaram que é arte interessante: qualquer coisa que, pela milionésima vez, rompa com os cânones da tradição. É fascinante acompanhar o malabarismo argumentativo que justifica a preferência dos entendidos em arte. Mario Vargas Llosa narra uma visita que fez ao Tate Modern, em Londres, onde pode contemplar, em uma das exposições, um cabo de vassoura pintado e apoiado na parede, e, principalmente, uma comitiva de alunos e professora que ali parara para olhar o tal “objeto estético”. Confira a sinceridade dos comentários das crianças e a análise de Vargas Llosa neste artigo. Encontro de intelectuais
A Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, é ocasião de reunir alguns dos mais representativos intelectuais brasileiros, e mais alguns estrangeiros. O que deveríamos esperar de um evento desses? Debates e painéis interessantes sobre a obra de grandes escritores e críticos literários, homens de erudição conversando sobre autores e suas obras, sobre alta cultura, sobre o futuro da elite intelectual do país, sobre o mercado editorial? Ora, é o que se espera da elite intelectual, certo? Well... Vejamos com o editor Carlos Andreazza como foi a última edição da Flip.
A vocação do escritor
Rilke, na primeira das Cartas a um Jovem Poeta, aconselha que o aspirante a escritor se inquira sobre donde vem a motivação para escrever. Se essa motivação tiver raízes no mais profundo da alma – a ponto de dar a impressão de que o escritor morreria caso fosse impedido de tomar a pena na mão e despejar no papel o que vê, o que pensa, o que sente – então ele deve honrar essa vocação, construindo toda a vida ao seu entorno. Agora é Rodrigo Gurgel, escritor e crítico literário, quem compartilha o que aprendeu sobre seu ofício, citando os ensinamentos, curiosamente, não de um escritor, mas de um pintor: o dedicado Van Gogh. Em verdade, são lições valiosas a todos aqueles que se devotam a realizar uma vocação, e ainda um bom termômetro para avaliarmos se estamos a desperdiçar nossos dons.