Os acontecimentos podem coincidir, concomitantemente, no tempo e no espaço. Não, por idênticos conteúdos mas sim pelos seus significados. Realiza-se, assim, um misterioso processo que tem enriquecido a História e que nos permite constatá-lo como a expressão de uma fase temporal, histórica, que pode ser chamada "sinal dos tempos". O processo é bastante misterioso e difícil de ser enunciado, razões pelas quais recorro, desde já, a um evidente exemplo. O das Grandes Navegações. Um período de tempo, dentro dos séculos 15 e 16, que reuniu e assemelhou entre si epopéias marítimas que resultaram na descoberta de novos mundos.
Todos os sinais dos tempos têm os seus valores (positivos e negativos), na dependência dos seus conteúdos e multiplicidade dos seus acontecimentos. Nosso maior interesse está nos primeiros.
O intervalo de tempo entre um acontecimento e outro (sempre dois ou mais) é variável e não implica decisivamente. Podemos admitir que há um " tempo histórico " que, com o passar dos anos, é cada vez mais curto, de modo que aproxima os acontecimentos entre si e em nossas mentes.
Estas difíceis cogitações estão sendo feitas em virtude de coadunarem com algo que é da minha invencionice e não tem uma explicação. Trata-se de uma pequena expressão que pode ser um pequeno aforismo: "o infortúnio costuma vir acompanhado".
Estou certo de que não possuo as virtudes que permitam tornar aceitável e compreensível o tema, mas aventuro-me nele como provocação de novas e melhores cogitações.
Seus valores
Os valores do sinal dos tempos estão na dependência do conteúdo e do numero dos acontecimentos que o compõem. Assim, podemos considerá-los maiores, menores e particulares.
O primeiro sinal do tempo a ser mencionado, como maior, é o chamado "século de Péricles", quando, no decurso do século 5 antes de Cristo, na Grécia Antiga, foram incrementadas as artes e as letras. Seguem-se, como grandes, também, a Renascença (séculos 15 e 16, na Europa); as "Grandes Navegações", com Cabral, Vespúcio, Vasco da Gama; da "Música Áurea", com Wagner e tantos outros; do Iluminismo (séculos 17 e 18).
Os sinais menores são todos bivalentes. É a simultaneidade de um acontecimento vivido identicamente, por duas pessoas, distantes uma da outra e sem um mútuo relacionamento. Esta realidade foi vivenciada pelos seguintes pares: Darwin e Wallace, com a doutrina da evolução; Florence Nigthingale e Ana Nery, na enfermagem; irmãos Right e Santos Dumont, na aviação; Pasteur e Koch, na bacteriologia.
Um autor romano penetrou no assunto escrevendo um livro intitulado Vidas paralelas.
Os sinais particulares referem-se ao fenômeno em cogitação quando vivido por uma só pessoa, que, agraciada ou maleficiada por um determinado acontecimento tem, os mesmos, repetidos em curto espaço de tempo. São as chamadas "sortudas" ou "azaradas" pessoas. Estas, as segundas, motivaram a presente crônica.
Suas implicações
O Sinal dos tempos tem um grande número de implicações. Todas elas misteriosas como ele mesmo. É claro, se uma delas tivesse explicação o mistério deixaria de permanecer.
Penso que o numeroso cortejo de títulos que enriquecem o tema deveria constituir um todo, receber um nome e constituir um novo capítulo da Filosofia.
Coincidência, acaso, sorte, destino, simultaneidade, casualidade, seriam alguns dos mais importantes títulos. Outros, de menor evidência, como: desdita, fortuna, infortunística poderiam ser citados.
Considerando tudo que vai dito como partes de um só mistério, qual o nome que daríamos ao novo conceito. Deverá ser um nome eufônico, simpático, convincente. Criptognose? Sincronia? Serendipidade?
Seus efeitos
Um dos efeitos seria a concepção de um novo título para o humano conhecimento. Enquanto isso, a humildade ante a nossa ignorância.
Também um conselho aos desafortunados. Cuidem-se. Apeguem-se à fé, à esperança, à oração. Pois "o infortúnio costuma vir acompanhado".
Ruy Miranda, médico é professor e filósofo/amador