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A floresta das sequóias

Acordei com uma estranha frase na cabeça: “Estou perdido na floresta das sequóias”. Desculpem-me os revisores gramaticais se escrevo a palavra sequóia com acento agudo no O, mas era assim que se escrevia na época em que meu pai respondeu a uma de minhas inúmeras perguntas de menino de 5 anos: “Pai, qual é a maior árvore do mundo?”

Eram as sequóias, disse Paulo. Árvores imensas e centenárias que cresciam nos Estados Unidos, o mesmo país dos foguetes espaciais e da Disneylândia. Acho que me lembrei hoje das sequóias porque o Pedro está na fase interrogativa e outro dia me perguntou qual era o prédio mais alto do mundo. Se fosse na época da minha infância, a resposta seria fácil: Empire State Building – o prédio em que o King Kong subia. Como o zelador do nosso prédio na Alameda Barão de Limeira morava no último andar, eu presumia que o zelador do Empire State Building também morasse no topo do edifício mais alto do mundo – sendo, portanto, um homem que vivia nas alturas, um nefelibata.

Como o zelador do nosso prédio morava no último andar, eu presumia que o zelador do Empire State também morasse no topo do edifício mais alto do mundo

Mas o Empire State Building, que também fica nos Estados Unidos, não é mais o prédio mais alto do mundo. Essa posição agora é ocupada por um edifício em Dubai. Como não sei o nome do prédio, mencionei ao Pedro apenas a sua localização: Dubai, nos Emirados Árabes. Ao ouvir essa resposta, Pedro animou-se e arrematou: “Emirados Árabes? É onde o Valdivia vai jogar!” O comentário demonstra que hoje o Pedro tem mais conhecimentos de futebol do que eu – e amanhã saberá muito mais de geografia, política e história. É bem provável, por sinal, que ele se torne um escritor melhor – feito que eu não consegui em relação a meu pai.

O Pedro agora deu de inventar sonhos. Antes de dormir ele fica narrando histórias de super-heróis para si mesmo, na esperança de dormir e sonhar com seus personagens prediletos. Há 40 anos, no apartamento da Barão de Limeira, que só tinha um quarto, eu fazia a mesma coisa. Antes de dormir no bicama da sala – cujo forro tinha listras pretas, amarelas e alaranjadas –, eu pensava em meus super-heróis prediletos (Super-Homem, Capitão Marvel, Aquaman) na esperança de sonhar com suas aventuras.

Um dia, porém, eu não sonhei com super-heróis. Sonhei que estava perdido numa floresta de sequóias pretas, amarelas, alaranjadas. Além delas, havia outras árvores, um pouco menores, mas igualmente centenárias. Essas árvores pareciam braços erguidos em súplica para o céu. Eu não sabia, mas eram as perobas de Londrina.

E foi em Londrina, na terra das perobas suplicantes, que nasceu meu filho. E é em Londrina, ainda perdido na floresta das sequóias, que eu peço a Deus para sonhar com meu pai todas as noites.

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