Estava eu aqui pensando que existem várias semelhanças entre os ofícios de porteiro e cronista.

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Ambos zelam por aquilo que é mais precioso para as pessoas: a família, a casa, o trabalho, a vida. Ambos abrem portas para que todos os homens de bem possam ir adiante. Ambos fecham as portas para que os homens maus não avancem. Ambos trabalham em horários inusitados, às vezes quando todos estão descansando. Ambos vigiam e conhecem o valor da vigília. Ambos têm uma relação muito especial e íntima com o tempo. O cotidiano serve-lhes de matéria-prima.

Ambos lidam com jornais e correspondências, auxiliando na comunicação entre as pessoas. Ambos anotam em papeizinhos os recados mais importantes. Ambos leem durante o expediente, mas devem simultaneamente prestar atenção ao que está acontecendo à volta.

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Outro dia eu estava lendo A Tempestade e postei uma foto de Stratford-upon-Avon, a cidadezinha onde Shakespeare nasceu. Um amigo perguntou se eu estava na Inglaterra. Respondi que, infelizmente, não; minha localização no momento era Londrina-upon-Igapó.

Sei que o lago de nossa cidade não tem porteiro, mas fiquei com vontade de compartilhar esse trocadilho com as nossas categorias profissionais: a de porteiro e a de cronista.

Então fiquei imaginando que as cidades não têm porteiros; mas a nossa cidade poderia ser uma exceção à regra. O porteiro de Londrina tem potencial para se tornar um personagem de livro, não acha?

O porteiro de Londrina seria um homem simpático, irônico, sorridente. Um exímio contador de histórias, dotado de excelente memória. Saberia o nome e a biografia dos vivos, dos mortos é até dos mortos-vivos.

Ele ofereceria café quentinho a todos que chegassem ao limite do município. E narraria aos interessados todos os pormenores daquela noite, quase 40 anos atrás, em que a geada negra caiu sobre o Norte do Paraná.

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Notou como o céu de Londrina anda bonito nestes dias de verão, amigo porteiro? Não foi por acaso que Pedro se tornou o porteiro do céu. Não foi por acaso que escolhi esse nome para meu filho.

Porteiro, companheiro, foi você quem me trouxe este jornal de manhã bem cedinho, quando o sol nem havia nascido. Às vezes eu penso que os porteiros poderiam ser cronistas – e que os cronistas poderiam ser porteiros. Nosso destino, porteiros ou cronistas, é viver cada dia como se fosse o último, como se fosse o único. E é.

Obrigado por ser um dos meus sete leitores – e aceite esta singela homenagem como sinal de amizade e consideração deste habitante de Londrina-upon-Igapó.

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