Nestes tempos de Quaresma, ouso pedir a Deus que me ajude a dizer só a verdade, a criar só a beleza e a fazer só o bem.
Dizer a verdade é muito difícil hoje em dia. Ela se tornou a inimiga pública número um. Onde quer que apareça, é perseguida. Marqueteiros regiamente pagos a odeiam. Professores universitários a relativizam. Empreiteiros se reúnem com ministros para ocultá-la a qualquer preço. A verdade não pode mais andar sozinha na rua sem o risco de ser assaltada e violentada. Mas não tenho outra saída: dizê-la é o meu ofício, o meu destino, a minha cruz.
Criar a beleza virou coisa feia. Dizer que um concerto de Bach vale mais do que todos os enredos de escola de samba é um crime contra a cultura popular brasileira. Afirmar que um artigo de Olavo de Carvalho é mais bem escrito que uma letra de rap pode dar cadeia. Um grafite de rua equivale a um quadro de Caravaggio. Para se criar beleza, é preciso antes admirá-la, mas o exercício da admiração hoje se tornou praticamente um ato clandestino.
Fazer o bem não é nada fácil. Ajudar uma pessoa sem esperar nada em troca, dar uma esmola, conversar com um velho ou uma criança, conceder atenção a um solitário – tudo isso costumeiramente é interpretado como demagogia ou hipocrisia. Cada vez mais tenho visto gente ridicularizando a bondade e esnobando a caridade cristã.
O mundo moderno atua para romper a unidade entre o real, o belo e o justo. Quando se relativiza o valor da verdade, elimina-se a integridade da beleza e do bem. A beleza só faz sentido quando, em última instância, fortalece a verdade. A bondade só vale a pena se é verdadeira. E a verdade sem amor é tão danosa quanto a mentira.
A crise que o país atravessa hoje é a do rompimento entre esses três valores fundamentais. A nossa doença tem origem espiritual: o coração do Brasil se parece com um templo incendiado, com cinzas em forma de mentira, feiura e maldade.
Outro dia fui ridicularizado quando disse ser a favor de um capitalismo com compaixão e de uma democracia temente a Deus. Por causa de opiniões semelhantes, um dia alguém me chamou até de “fantoche do títere”. Adorei essa alcunha! É exatamente o que eu sou. Em última instância, não passo de um fantoche daqueles que procuro imitar (sem conseguir): Padre Pio de Pietrelcina, Teresinha do Menino Jesus, Maximiliano Kolbe, Edith Stein, José Kentenich. Eles, por sua vez, são títeres da vontade de Deus. Disseram a verdade, criaram a beleza e fizeram o bem. De que mais um homem precisa?
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