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Paulo Briguet

Guerra é sempre

Nos últimos tempos, antes de falar ou fazer qualquer coisa, eu me pergunto: isso é guerra ou paz? Grande parte dos meus silêncios mais recentes se deve a esse hábito. Porém, não se trata de uma pergunta fácil como parece à primeira vista. O ideal seria atingir a paz "que ultrapassa todo entendimento", no dizer dos místicos orientais, mas neste mundo quase todos os atos carregam uma ambiguidade essencial. Existe a guerra que conduz à paz e existe a paz que conduz à guerra. Há a passividade covarde, também chamada omissão ou comodismo, e há a espada santa, também chamada coragem ou profecia.

Durante longo tempo em minha vida, dediquei-me exclusivamente à guerra, enquanto pregava uma paz da boca para fora. "Luta de classes" e "revolução permanente", termos que me seduziram por vários anos, significam a guerra interminável não apenas contra um grupo social ou um sistema econômico, mas contra a própria estrutura da realidade.

O outro lado da moeda é o pacifismo absoluto – para mim, tão abominável quanto a beligerância universal. George Orwell fala sobre isso em seu ensaio sobre Gandhi. Na visão do líder indiano, os judeus deveriam "entregar-se em sacrifício" aos nazistas. Isso não é paz; é a guerra da pior espécie. No Holocausto, Gandhi errou, e errou feio.

A adolescente Malala ganhou o Nobel da Paz porque não foi passiva diante dos inimigos. O preço da verdadeira paz muitas vezes é uma bala na cabeça. "Não cuideis que vim trazer paz, mas espada", disse o próprio Jesus.

Penso não ser por acaso que um dos maiores livros de todos os tempos seja Guerra e Paz. As duas palavras condensam e simbolizam as atitudes humanas perante a realidade. No Brasil, temos também o nosso Guerra e Paz, que é Os Sertões. As obras de Euclides e Tolstói, embora tenham concepções e estruturas muito diferentes, guardam semelhanças espantosas para o leitor. A Moscou em chamas e o Arraial de Canudos destruído parecem imagens do mesmo lugar, do mesmo inferno.

E, por falar em inferno, o escritor Primo Levi conta que, após a libertação de Auschwitz, encontrou um companheiro de campo que lhe criticava por não ter sapatos. O homem dizia: "Lembre-se, na guerra a primeira coisa são os sapatos, a segunda é comer". Levi respondeu: "Você tem razão, mas a guerra acabou". O outro replicou, em dialeto ladino: "Guerra es siempre".

Por isso, meus sete amigos leitores, não se espantem se às vezes eu pareço muito belicoso. Estou apenas "cuidando dos sapatos": outra maneira de dizer que me preocupam os caminhos deste mundo.

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