Ser pai é ir a uma reunião de trabalho e ficar feliz porque tem bolinho do Pernalonga no coffee break. Ao fim da reunião, você pode levar um bolinho para o seu filho, e ele vai ficar ainda mais feliz que você (Na verdade, não era do Pernalonga, era do Bob Esponja). No fim de semana, ser pai é telefonar antes para o restaurante perguntando se tem parquinho. No meio da semana, quando chove e venta forte, ser pai é ligar para casa e perguntar se estão todos bem. Ser pai é sempre parar e olhar a vitrine da loja de brinquedos, mesmo que sejam aqueles de 1,99. Ser pai é abraçar o filho quando ouve alguma notícia ruim envolvendo criança. É acordar no meio da noite, levantar meio bêbado de sono e conferir se ele está bem coberto. Ser pai é rezar para o filho e também para todos os pais e filhos do mundo. Outro dia li uma história do Chico dos Bonecos para o Pedro e fiquei emocionado, com um nó na garganta. Fui ver e ele já estava dormindo. Eu a chorar, ele a dormir. Isso é ser pai.

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Um amigo disse que eu ando muito saudosista. Na verdade, isso acontece há 44 anos. Nasci com saudade e vou morrer com saudade. Na semana passada, minha irmã enviou-me uma foto de Paulo e Aracy. O pai e a mãe sorriem lá de 1988, em um baile de carnaval, em um clube que não existe mais. Quando a imagem apareceu na tela, fui acometido por uma onda de saudade que só posso definir como aniquiladora. Era uma daquelas pequenas ressurreições que acontecem quando menos esperamos.

No momento em meus pais se divertiam naquele carnaval, 26 anos atrás, jamais poderiam imaginar que um dia a breve cena causaria tamanha comoção no filho mais velho. Pensei em tudo que eles fizeram para que eu tivesse a infância, a adolescência, a juventude e a maturidade cercadas pelo maior amor que um filho poderia pedir. Pensei em minha mãe pegando dois ou três ônibus para dar aulas de História na periferia de São Paulo. Pensei em meu pai trabalhando sem folga para se sustentar durante a faculdade. Pensei nos imensos sacrifícios de Paulo e Aracy. Será que eu agradeci direito?

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Ser pai é comparar os pés com os pés do filho. Foi o que eu e o Pedro fizemos dias atrás. Rosângela comentou: "Vocês dois têm a forma dos pés exatamente igual!" Um velho filósofo grego diria que a forma é aquilo que sobrevive a nós, como a partitura sobrevive à execução do músico. Os pés de meu filho levam com eles a forma de nossos antepassados e descendentes. Ser pai é ser filho: nascer e morrer na forma de saudade.

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