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Existe a verdade e existe a beleza. Entre elas, existe a bondade – também chamada compaixão. E é disso que fala o Natal. Da compaixão. Se não sentimos o que os outros sentem, se não sofremos o que os outros sofrem, se não nos importamos com a salvação dos outros, não existirá Natal, mas apenas uma festa vazia e profana. Sem verdade, sem beleza, sem bondade.

No Natal sempre vejo algumas sombras. Uma delas é a de Antônio Costa. Há 120 anos, ele foi deixado sozinho no Brasil pela família, que voltou a Portugal. Era apenas um menino, uma criança. Fecho os olhos e esforço-me para compreender a intensidade da solidão que ele sentiu ao ser deixado em um país enorme e desconhecido. Penso agora no primeiro Natal que ele passou longe da família. Haveria alguém ao seu lado para dizer que um menino havia nascido?

Como se explica que Antônio não tenha se perdido para sempre? Hoje, nas mesmas condições, ele provavelmente teria sido aliciado por uma das forças que nos governam: o crime, as drogas, a prostituição. Mas certamente não lhe faltaram, também naquela época, opções para o descaminho. Desde que o homem existe, o mal sempre oferece seus préstimos no instante do desespero.

No entanto, aquele menino abandonado à própria sorte aprendeu a ler e formou uma grande família. Ajudou a construir a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e tornou-se maquinista de trem.

É evidente que Antônio recebeu ajuda. Em algum momento de sua vida, uma pessoa lhe estendeu a mão. Os céticos dirão que não sabemos o nome do primeiro benfeitor, mas eu tenho a profunda convicção de que esse homem é Yeshua.

Quando os filhos já estavam crescidos, Antônio Costa e sua esposa deram guarida a um bebê abandonado e o registraram como filho. Morreram tempos depois. Não diremos aqui o nome desse menino, pois hoje ele se encontra em situação difícil.

Na próxima terça-feira, esse rapaz, hoje um homem de meia-idade, vai passar a noite numa cela de prisão. Como seu estado de saúde inspira cuidados – ele é soropositivo e diabético, além de já ter sofrido um infarto –, é provável que esteja em um ambiente isolado, cercado de sombras.

Por volta da meia-noite, alguém baterá à porta de sua cela. Com dificuldade, ele se levantará para saber quem é. Verá não apenas um, mas dois homens, um deles transfigurado pela própria luz. O segundo homem, menos luminoso, mas resplandecente diante das sombras, é Antônio Costa. Em vez de injeções e remédios, traz presentes numa pequena bandeja. O outro homem lhe estende a mão através das grades. Seu nome é Yeshua.

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