O que é que tem na água de Londrina? Sempre se faz essa pergunta. Queremos conhecer o motivo de tanta gente se apaixonar pela cidade. Afinal, Londrina não é bela como Curitiba; não vem crescendo como Maringá; não tem as Cataratas, nem a Tríplice Fronteira, como Foz; não possui a força de São Paulo, nem o charme do Rio; não é luminosa como Paris, nem eterna como Roma; não é sagrada como Jerusalém, nem lendária como Alexandria. Mas hoje, 25 anos depois de chegar aqui, adolescente que nem sabia pegar um ônibus direito, finalmente descubro: na água de Londrina tem café.
Oscar Wilde dizia que é raro encontrar alguém que realmente vive; a maioria das pessoas apenas existe. Com o café é o contrário. Durante 40 anos um período bíblico ele existiu como a maior fonte de riquezas da cidade e da região. Hoje o café não existe mais como principal força econômica, mas vive na alma da cidade. Deixou a nossa terra para entrar em nosso coração.
E dele nunca sairá, porque o café é o sentido de Londrina. Está no paladar: no delicioso líquido fumegante que celebra amizades, acordos, narrativas, pausas. Está no olfato: no inconfundível cheiro da torrefação ali na Avenida Tiradentes ou no bule que a mãe acabou de preparar de manhãzinha, enquanto você ainda estava dormindo. Está na audição: no balanço das máquinas da cooperativa, no vento que ainda parece agitar os cafeeiros em flor, nas canções caipiras que insistem em soar nos rádios antigos. Está no tato: nas mãos de quem ainda sabe o trabalho que dá derriçar uma rua da lavoura. Está na visão: nos intermináveis cafezais que resistem na memória, no pôr do sol que sangra todos os dias, nos nomes das placas, ruas, lojas, cinemas, teatros, hotéis, edifícios. Um simples passeio por Londrina, ou pelas cidades da região, é suficiente para comprovar: somos todos filhos do café.
Se penso no fruto do café, penso também no mundo. A Terra é azul, disse Yuri Gagarin. O café é vermelho, disse Willie Davids. Cada fruto de café é um planeta; mas pode ser também um pequeno sol que iluminará para sempre os nossos caminhos de terra e poeira e lama, lembrando que somos feitos do mesmo barro.
O café não é mera representação do passado. Ele é um símbolo; como tal, não só participa do presente, como também pertence à estrutura mesma da realidade. Café, o sempre-agora. Se pararmos para observar essa palavrinha de duas sílabas, descobriremos que o nome traz em si a própria resposta do enigma. A água de Londrina tem café. E tem fé.
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