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Plutão

De manhã, abro a Bíblia numa página aleatória e leio: “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas”. O Sol ainda não nasceu. Faz frio. Leio no jornal notícias sobre a sonda espacial que chegou a Plutão – o último planeta do Sistema Solar, embora desde 2006 seja considerado “planeta anão”.

Na infância eu queria ser astrônomo. Aos 8 anos, ganhei do meu pai um livrinho de astronomia e montei um laboratório de observações espaciais no quartinho da despensa. Meu laboratório não tinha telescópio, apenas um binóculo meia-boca. É o que podíamos comprar na época: um livrinho e um binóculo barato. Jamais conseguiria ver Plutão através desse equipamento. Se conseguisse espiar as crateras da Lua, poderia agradecer aos céus. Não consegui.

Dizia: “Mãe, eu te amo até Plutão!” É que Plutão, naquela época, não era anão. Era o último planeta oficial do Sistema Solar. Era o lugar mais distante. Era o lugar em que um ano durava 248 anos e um dia durava um ano. Isso me faz lembrar a frase de um personagem de John Steinbeck: “O ano está no dia. O dia está na manhã”. Por todos esses motivos eu amava minha mãe até Plutão. Lá um ano demora mais de uma vida para acabar.

O astrônomo mirim sabia que o seu amor pela mãe iria até o lugar mais distante alcançável pelo homem

Na mesma manhã em que li as notícias sobre Plutão, vou ao velório do pai de um amigo e o padre lê a seguinte passagem da Bíblia: “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Então o padre pede que rezemos o Pai Nosso. E ali eu ouço e vejo o Pai Nosso mais fervoroso da minha vida.

Depois de prestar a homenagem ao pai de meu amigo, saio caminhando pelas ruas do centro de Londrina. As palavras do padre ainda reverberam em meus pensamentos: “Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou”.

Nas primeiras fotos nítidas de Plutão, revelou-se na superfície a forma de um coração. Embora o meu binóculo mal conseguisse enxergar o apartamento da vizinha, eu já suspeitava disso aos 8 anos de idade. O astrônomo mirim sabia que o seu amor pela mãe iria até o lugar mais distante alcançável pelo homem.

Agora, a sonda New Horizons vai seguir o seu caminho, levando na bagagem um punhado das cinzas de Clyde Tombaugh, o astrônomo que descobriu Plutão em 1930. Até onde a nave vai viajar não sabemos. Da mesma forma, Tomé não tinha certeza. Por isso ele perguntou: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Ao que Jesus respondeu: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.

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