Em Londrina existe uma árvore que cresceu no meio de uma das mais movimentadas ruas da cidade. É o belo flamboyant da Sousa Naves, que agora está em flor. Ali os motoristas são obrigados a fazer um desvio em respeito à árvore. O flamboyant me fez pensar no escritor e jornalista Nilson Monteiro, que hoje toma posse na Academia Paranaense de Letras.
Quem precisa de uma árvore? Quem precisa de um poeta? As coisas mais importantes da vida não têm utilidade prática à primeira vista. Precisamos de Nilson Monteiro pela mesma razão de que precisamos do flamboyant da Sousa Naves: para alegrar e embelezar a vida.
Precisamos de Nilson Monteiro para escrever poemas, crônicas, canções, romances, perfis, memórias, reportagens. Precisamos dele para nos mostrar quem foi o Barão do Cerro Azul, para nos contar a jornada épica de Itaipu, para construir uma catedral de palavras com madeira de lei.
Precisamos de Nilson Monteiro para honrar as profissões de repórter, editor, assessor de imprensa. Para enriquecer as páginas de jornais e revistas. Para dizer o quê, quem, como, quando, onde e por quê. Para responder à sétima pergunta do lide: e daí?
Precisamos de Nilson Monteiro para nos salvar. Salvar a vida dos amigos jornalistas que exageraram na bebida; para salvar o menino que está sofrendo um ataque de hipoglicemia; para salvar uma noite de festa que parecia perdida para sempre.
Precisamos de Nilson Monteiro para nos consolar. Consolar-nos das pequenas agruras, dos ligeiros reveses, das momentâneas agonias, dos imprevistos percalços, das torneiras pingantes, das cigarras cantantes, dos elevadores parados entre um andar e outro, da agenda cheia, da primeira segunda-feira depois das férias, daquela tarde de domingo com a pia cheia de louça pra lavar, da morte dos seres amados. Amigo, dai-nos consolação!
Precisamos de Nilson Monteiro para chorar. Chorar a morte dos poetas que pareciam eternos: Drummond, Quintana, Kolody, Manoel de Barros. Chorar a incompreensão e a cegueira dos velhos companheiros de luta. Chorar o destino de um país partido ao meio e à beira do abismo. Chorar a tentativa de criar uma ditadura como nunca se viu na história desse país.
Precisamos de Nilson Monteiro para comprovar que a distância entre Londrina e Curitiba é menor que a de um pensamento. Para morar todos os dias em Londrina, pisando a terra vermelha molhada pela chuva, enquanto o trem muge. Para viajar até Porto Alegre, São Paulo, Presidente Bernardes.
Nós, pobres mortais, precisamos de Nilson Monteiro assim como precisamos daquela árvore no meio do caminho.
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