Um dos primeiros textos que publiquei na Gazeta do Povo era uma crônica chamada “Vamos ver o fim do mundo”. Falava sobre um jovem universitário que deixa de ir a uma assembleia estudantil para se despedir de um grande amor. Sempre que dirigimos a palavra a alguém, existe a possibilidade de que seja um adeus. Naquela crônica, publicada há mais de três anos, sentia-se esse tom de despedida, que mesmo de maneira sutil percorre todos os meus escritos. Escrevo sempre como se fosse a última crônica, com o coração nas mãos.
Esta é a minha última crônica na Gazeta. Muita gente não gosta de dizer adeus e até sente medo da palavra, como se a despedida fosse uma atitude de mau agouro. No entanto, a vida é feita de muitos adeuses, e isso não é necessariamente ruim. Todos os dias precisamos encerrar ciclos e missões, nem que seja para contemplar um belo pôr do sol, como fazia o casal naquela crônica de 2012.
Espero que 2016 seja um ano de muitos adeuses. Depende de nós a quem vamos dirigi-los
Todo adeus é um pequeno milagre, um componente essencial da estrutura da realidade. É o sinal, ou melhor, o símbolo da renovação e da mudança, sem os quais a vida não realiza o seu movimento perpétuo. “Necessário vos é nascer de novo”, disse Jesus a Nicodemos, quando este O procurou à noite.
No fim deste ano tão difícil que foi 2015, bastante gente compartilhou a mensagem “Adeus, 2015. A Deus, 2016”. Talvez a maioria não tenha percebido que “adeus” e “a Deus” são rigorosamente a mesma coisa. É Deus que nos aguarda nas duas pontas do tempo.
Espero que 2016 seja um ano de muitos adeuses. Depende de nós a quem vamos dirigi-los. Acho que o Brasil está aprendendo a dizer adeus à mentira, à corrupção, à ditadura, ao crime organizado. Tenho fé que este será o último ano de existência da organização criminosa que não preciso nominar, pois vocês sabem qual é. “A Deus”, no caso, quer dizer à justiça de Deus.
Desde o primeiro texto que escrevi para o GRPCom, em 2004, muita coisa mudou em minha vida. Sou um homem muito mais feliz do que era – e espero que vocês, meus sete leitores, também o sejam.
Confesso que a decisão de deixar a Gazeta não foi fácil. Nesta casa fiz muitos amigos – bem mais de sete – e tive muitas alegrias. É claro que também fiz inimigos; talvez uns 17. Mas a eles estendo a mão sem nenhum traço de rancor ou ressentimento – e aviso que meu substituto será melhor do que eu. Vocês não perdem por esperar!
A última crônica está chegando ao fim. É da natureza do gênero cometer injustiças por falta de espaço. Mas não quero terminar sem deixar o meu abraço aos editores e diretores da Gazeta que acreditaram no meu trabalho e me ajudaram com seus conselhos. Em nome deles, agradeço a todos os amigos – e a Deus.
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