O Brasil enfrenta duro combate ao crime da corrupção, o qual custou, ao longo dos tempos, noites de insônia e vergonhosas discriminações. A corrupção é processo lento, cujos vestígios se apresentam inicialmente imperceptíveis. Trata-se de germe nocivo que se instala nos seres vivos e prolifera em seus organismos até encontrar terra fértil à sua ação devastadora. Já a corrupção moral deprava os costumes da pessoa que, por sua vez, sendo "incapaz de impor-se princípios de autocontrole, termina por considerar a própria vida como modelo válido."
Ninguém nasce corrupto. Algumas vezes, a corrupção instala-se veladamente e com relativa facilidade em seres humanos pouco efeitos ao respeito dos direitos alheios; outras vezes, instala-se em pessoas fortemente seduzidas pelas presumíveis vantagens que o crime lhes oferece. Sem profilaxia moral e sem o exercício de autocontrole, tais indivíduos correm o risco de corromper-se e serem futuros agentes corruptores.
A corrupção não se limita aos delitos individuais. Ela também invade casas alheias, age no campo político e econômico, infiltra-se nas estruturas e instituições sociais. No caso do Brasil, ela corre solta e alimentada pela impunidade. É sustentada pela multiplicidade de partidos políticos sem conteúdos programáticos definidos e por que não? alimenta o povo sem instrução elementar. Vota-se a toque de caixa, visto que parte do povo gosta do espetáculo e adora bravatas eleitorais.
Por outro lado, não se pode inculpar o povo pelo triste espetáculo que somos obrigados a assistir. É notório que as normas institucionais, por si só, não são suficientes para frear o lamaçal da ganância rumo ao poder. A sociedade reclama de estruturas e garantias sábias e prudentes para exercer um possível controle cívico-moral. Necessita de pessoas moralmente sadias e devotadas à causa do bem comum. Precisa de homens e mulheres comprovadamente voltados à salvaguarda do patrimônio ético, cívico e moral, acumulado ao longo da história. Em suma, necessitamos de pessoas que Cícero costumava saudar com o honroso título de "Pais da Pátria".
Nesta perspectiva, o Conselho Pontifício Justiça e Paz, a conselho do saudoso Papa João Paulo II, promulgou o valioso Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Trata-se de obra longamente discutida e meditada. Nela, os autores auspiciam a promoção da cultura da solidariedade para estabelecer uma ordem econômica mais justa, "na qual não domine somente o critério do lucro, mas também os da procura do bem comum nacional e internacional, justa distribuição dos bens e da promoção integral dos povos." Solicita-se ainda renovado vigor no testemunho da verdade plena, encontrável no Evangelho. Este testemunho é imprescindível, face à preocupante difusão do relativismo e do subjetivismo cego, veiculados no campo da moral, da política, da economia e de práticas viciadas.
O mundo moderno, dominado pelo imaginário do relativismo e do subjetivismo, sente-se profundamente ameaçado pela insegurança, terror, fome e guerra. Não vai ser o relativismo e nem o subjetivismo que vão restaurar a justiça violentada e restituir a justa distribuição dos bens da terra, em princípio, creditados a todos os seres humanos. O caminho rumo à verdadeira globalização dos bens da terra passa, necessariamente, pela solidariedade. Todas as pessoas precisam de comida e água, e não apenas reduzido grupo de pretensos senhores do mundo.
Para contribuir na obra da globalização da solidariedade, o Pontifício Conselho de Justiça e Paz lançou, no Brasil, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, repetindo o gesto em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Nenhum outro país mereceu tal distinção. O Brasil precisa beneficiar-se desta outorga para lançar fundamentos sólidos, rumo a um futuro mais tranqüilizador, justo e humano.
Evidentemente, o destino do Compêndio não depende do número de exemplares vendidos, tampouco se esgotará nas conferências e apresentações. O sucesso do Compêndio "medir-se-á pela convicção com que será acolhido e pelo uso que dele se fará para uma presença refletida, consciente, coerente e comunitária dos leigos católicos na sociedade e na política." A Doutrina Social da Igreja interessa a todos quantos se preocupam com a saúde, melhoria da economia e da política e restabelecimento da justiça e da paz.
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