O strip-tease político prossegue em ritmo acelerado. Sem música, luzes propícias e mise-en-scène. O desnudamento ocorre às claras. Começou com o militante petista do Ceará flagrado com aquela penca de dólares na roupa de baixo. Quem se desnuda agora é a Coteminas, empresa têxtil do vice-presidente da República que admite o recebimento de um milhão de reais em dinheiro como parte do pagamento de quase três milhões de camisetas encomendadas pelo PT.
O culpado é o de sempre: o pobre do Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, bode-expiatório de plantão deste quadriênio e para quem estas bandalheiras são piadas de salão. Vai tudo por conta do caixa 2, instituição que o ministro da Justiça considerou "coisa de bandidos", mas o partido do governo minimiza como ilícito menor, negligenciável.
O problema agora não é só do PT, culpa igual é a da Coteminas, uma das maiores empresas do país que, não obstante, considerou apropriado receber de um partido político aquela fábula de dinheiro, em espécie. O fato de ter contabilizado corretamente a quantia não livra o gigante têxtil da acusação de conivência. Receptador de dinheiro ou de objetos de origem duvidosa é cúmplice de uma infração que transcende o âmbito da Lei Eleitoral. Está incurso no Código Penal.
Como se não bastasse a confissão do ex-deputado Waldemar da Costa Neto de que recebeu dez milhões de reais para que o PL apoiasse o PT, agora surge o flagrante desta gigantesca compra de camisetas na fábrica do vice-presidente da República, expoente do PL antes de embarcar no filhote, o recém-criado PR.
Além de caixa 2, o episódio cheira a lavagem de dinheiro: R$ 4,30 por camiseta é evidência de superfaturamento: nos grandes atacadistas da Rua 25 de Março em S. Paulo, em encomendas inferiores as 2,75 milhões de unidades consegue-se facilmente camisetas por R$ 2,50. A diferença de preço foi mascarar outras operações suspeitas.
O caso não pode ser encerrado como pretende o atual presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar. Aqui tem caixa 3, 4 ou 5. Transcende ao valerioduto e, principalmente, flagra a libidinagem eleitoral protagonizada pelos pequenos partidos.
O problema não está nas cuecas do PT e nas camisetas do PL. O problema está na falta de determinação dos legisladores para extinguir imediatamente os focos de corrupção política produzidos pelas legendas de aluguel.
Além das alterações eleitorais já propostas pelo TSE, é imperioso que o Congresso assuma formalmente a responsabilidade de implementar um calendário de reformas políticas.
A manutenção das regras atuais equivale a um atestado de complacência com a imoralidade. A verticalização das coligações pode ser uma medida saneadora. A exigência de um percentual mínimo de 5% do eleitorado pode ser outra O importante é evitar que o rigoroso combate à multiplicação partidária seja visto como recurso antidemocrático. Antidemocrática é a atual legislação que permite mistificações fisiológicas como o Prona. Aos pequenos partidos ideológicos (como o PSB e o PC do B) que não conseguirem alcançar aquele mínimo de votos fica aberta a possibilidade de fusões como acontece na Itália e França.
O importante, a esta altura, é difundir a percepção de que a reforma política-eleitoral é inadiável. Chegamos ao fundo do poço. A procrastinação, no caso, será entendida como leniência diante de um imenso sistema de prevaricações e promiscuidades. Cassações e punições apenas não resolverão as disfunções estruturais do atual regime. Ao contrário, passarão a impressão de que está tudo resolvido.
Não está. A República não pode continuar submetida a este vergonhoso strip-tease. Além da indecente exposição de cuecas e camisetas, urge acabar com o cinismo das explicações e desculpas.
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