Agora que a desaceleração da economia se tornou clara, com a previsão de crescimento do PIB no ano baixando para 2,3%, levantam-se vozes apressadas pregando a revisão radical da política econômica, numa escalada que implicaria liberação de gastos públicos, redução abrupta dos juros e outras medidas de cunho similar. É claro que a diretriz rígida das autoridades monetárias precisa ser ajustada, mas é preciso ir devagar com o andor, sob pena de colocarmos em risco os ganhos de estabilidade dos últimos anos, recaindo num populismo fiscal prejudicial a todos.
Tais observações são oportunas diante do número de agentes econômicos, lideranças políticas e até membros do governo que passaram a exigir a imediata mudança da política econômica, sob o argumento de que seria difícil abrir o ano eleitoral de 2006 sob o panorama de expansão modesta ou até retração da atividade produtiva. Após respaldar durante meses a linha operada pelos dirigentes do Banco Central, essas autoridades e seus associados foram tomados de surpresa com a amplitude da desaceleração. Num primeiro momento, puseram-se a questionar a metodologia utilizada pelo IBGE para calcular a retração do PIB no terceiro trimestre, deslembrados de que essa é a resultante lógica do desestímulo à atividade produtiva.
A propósito, no encontro que teve com o presidente Lula na semana passada, em Curitiba, o empresariado paranaense reclamou dos três "cavaleiros do Apocalipse" que corriam soltos pelo país afora: juros altos, carga tributária excessiva e câmbio desalinhado. Os efeitos cumulativos dessas distorções se manifestam agora, potencializados por fatores naturais negativos seca na lavoura do Centro-Sul, febre aftosa na pecuária que agravaram as perdas no PIB agrícola, colocando sob risco os ativos dedicados à produção, segundo lamentou um dirigente empresarial.
Os mesmos problemas foram reavivados durante a visita do vice-presidente José de Alencar ao Paraná, na segunda-feira. Representante do segmento empresarial na chapa vitoriosa em 2002, o visitante concordou com as queixas, lamentando que a taxa básica de juros mantida em níveis reais elevados por mais de dois anos estivesse multiplicando distorções pela economia: inadimplência, perda de contratos de exportação, fechamento de firmas e redução do emprego. O deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto recomenda um novo "mix" de política econômica, capaz de reanimar o "espírito animal" dos empreendedores.
Tais mudanças são necessárias e oportunas, mas da mesma forma que os operadores monetários erraram a mão no ciclo anterior, cabe agora proceder com cautela para evitar uma turbulência que anularia os esforços anteriores. O Brasil sofreu muito no passado com a inflação crônica e espera de seus governantes uma liderança de qualidade para superar as dificuldades atuais, emergindo afinal como nação madura aproada para o desenvolvimento com paz social.