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Caiu ontem à tarde a primeira peça do que se supõe seja o mais monumental dominó de práticas ilícitas em que já se enredou o país em sua história política. O presidente nacional do Partido Liberal (PL), deputado Valdemar da Costa Neto, renunciou melancolicamente ao seu mandato com um discurso em que confessa claramente seu envolvimento no chamado "escândalo do mensalão". Em discurso no Plenário da Câmara, ele admitiu ter recebido dinheiro do PT num acordo feito para pagar as dívidas de campanha e não exigir o recibo para prestar contas à Justiça Eleitoral.

Que não se pense que sua atitude possa ser classificada como um gesto de grandeza. Na verdade, ao assim agir, tenta salvar-se da inevitável cassação e da perda por dez anos de seus direitos políticos. A renúncia faz cessar o processo – aberto em junho para julgar o deputado Roberto Jefferson, denunciante e réu confesso do mesmo delito – que contra ele se iniciaria na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Desse modo, Costa Neto ganha, em tese, a condição jurídico-eleitoral de candidatar-se à reeleição no ano que vem.

Tantas são as evidências que pesam contra parlamentares que não será surpresa se outros atos de renúncia vierem a se repetir em meio ao clima político, que tende a se tornar ainda mais tenso a partir do depoimento hoje, à Comissão de Ética, do ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil José Dirceu. E em meio também à abrupta vontade que, de repente, começa a tomar conta dos que, vendo-se abandonados à própria sorte e na tentativa de salvar a própria pele, agora prometem levar outros nomes para o precipício.

Foi o que fez oficialmente ontem o publicitário Marcos Valério, tido e havido como principal operador do esquema do mensalão, ao protocolar na Procuradoria-Geral da República um pedido para ser incluído no benefício jurídico da delação premiada – um dispositivo legal que concede aos condenados pela Justiça a chance de passar menos tempo na cadeia caso colaborem voluntariamente com a investigação. Se concedido o benefício, com certeza recuperará a memória que demonstrava ter perdido quando da inquirição a que foi submetido na CPI dos Correios há três semanas. Temia-se também, ontem à tarde, por supostos efeitos devastadores que poderiam resultar do depoimento da sua gerente-financeira, Simone Vasconcelos, à Polícia Federal, com potencial para derrubar outras peças do dominó e envolver personagens que até o momento não mergulharam no mar de lama.

As CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos já reuniram material suficiente para incriminar dezenas de pessoas no parlamento e fora dele, mas as investigações ainda estão em curso e muito ainda há para ser revelado, aprofundado e esclarecido. Pode-se esperar, dessa forma, que inúmeros nomes sejam ainda inseridos na já longa lista de puníveis. O grande temor, agora, é que a crise suba clara e definitivamente a rampa do Palácio do Planalto, bravamente ainda – para usar o jargão tão em voga ultimamente – "blindado" dos seus efeitos.

Ao que o Brasil assiste não é o que o Brasil quer. O que o país quer é que se tire da crise a lição definitiva de que política é feita para o bem geral da sociedade e que ela se desenvolva de maneira ética, límpida e transparente.

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