Admiro alunos com desenvoltura pra intervir em aulas, fazer perguntas, questionar, talvez porque não a tenha tido na idade deles (poucos a têm, afinal), e também porque hoje percebo quanto a aula se beneficia com as intervenções. Costumo repetir que o aluno com a dúvida não está atrás, mas à frente. O resto da turma frequentemente precisa de explicação para entender a questão que se coloca.
Na semana passada interrompi o curso por alguns minutos para comentar sobre novos dados do descongelamento do Ártico, que atingiu valor recorde, significativamente maior que a média entre 1979 e 2000, e o verão por lá ainda nem terminou (veja os dados em meu blog: http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com.br). Tão importante quanto o conteúdo da disciplina é traduzir a enxurrada de informação. O que as mudanças climáticas significam para o futuro profissional responsável pela nossa comida?
Foi neste momento que o Matheus, para quem a coluna de hoje é dedicada, saiu-se com essa: "O clima está mudando, tudo bem. Mas somos mesmo nós os responsáveis?"
Reconheço que as provas são circunstanciais. Não é só porque você saiu com duas malas da casa de uma pessoa sumida que isto prova que você a matou. No caso, a prova circunstancial é que o planeta começou a esquentar na mesma hora em que começamos a colocar mais carbono na atmosfera, a partir da Revolução Industrial. A variação que houve desde então, e ela sempre existiu e sempre existirá, é muito menor que o aumento implacável. Confira o gráfico que também está no blog.
Mas, além da prova circunstancial, há também o motivo, o mecanismo. O aumento do carbono faz que a atmosfera retenha mais calor. Mudanças de centenas de partes por milhão causam aumentos de poucos graus no planeta como um todo, mas isso já é suficiente para bagunçar o clima.
Uma prova circunstancial poderia ser neutralizada por outra maior. Se, por exemplo, a atividade solar tivesse aumentado consistentemente desde a Revolução Industrial, ou houvesse alguma outra causa plausível, o Instituto Heartland não estaria gastando milhões para tentar confundir a opinião pública, como aliás já também tentou, nos anos 90, convencer que o fumo passivo não existia.
Há provas circunstanciais, motivo e ausência de álibi para o aquecimento global causado pelo homem. Igualmente, algumas grandes empresas petrolíferas são responsáveis pelo crime de desinformação. Elas têm medo do fim dos subsídios bilionários. Contra a desinformação não há melhor remédio que a dúvida.
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