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Editorial

A ameaça do desemprego

Desemprego subiu para 8,6% no trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2023. (Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo / Arquivo)

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Nesta sexta-feira, o IBGE colocou em dia seu calendário de divulgação dos números do mercado de trabalho com os dados da Pnad Contínua relativos a fevereiro, e o resultado é a volta daquele descolamento verificado em outras ocasiões entre o Novo Caged e os números do desemprego. Enquanto o Ministério do Trabalho registrou a abertura de 241,7 mil vagas de emprego formal, o IBGE verificou novo aumento no desemprego: 8,6% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, contra 8,4% no período de novembro de 2022 a janeiro deste ano. O Brasil tem, agora, 9,2 milhões de pessoas procurando trabalho, contra quase 9 milhões no trimestre móvel anterior.

Em comparação com os dados do Caged relativos aos dois primeiros meses de 2022, o país está gerando menos empregos formais. Existe a possibilidade de que estejamos lidando com uma base de comparação inflada: afinal, o começo do ano passado fez parte do período de retomada da economia após as restrições mais severas impostas por estados e municípios para conter a pandemia de Covid-19, em 2020 e 2021. Apesar do surgimento da variante ômicron, em janeiro de 2022, boa parte dos brasileiros já havia se vacinado e os negócios estavam se recuperando, reabrindo e contratando.

Lula e o ministro Luiz Marinho parecem continuar presos na ilusão de que um mero reaquecimento da economia, baseado em crédito fácil, bastará para resolver as deficiências do mercado de trabalho

Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, fez uma observação que vai ao encontro desta hipótese ao comentar os dados da Pnad Contínua. As “quedas significativas seguidas” no desemprego durante uma sequência de seis trimestres “foram muito influenciadas pela recuperação do trabalho no pós-pandemia”, diz ela. Por este prisma, “voltar a ter crescimento da desocupação nesse período [de início de ano] pode sinalizar o retorno à sazonalidade característica do mercado de trabalho”, já que, “se olharmos retrospectivamente, na série histórica da pesquisa, todos os trimestres móveis encerrados em fevereiro são marcados pela expansão da desocupação, com exceção de 2022”.

Isso não significa, no entanto, que não temos razões para preocupação. Mesmo se a elevação do desemprego em janeiro e fevereiro realmente corresponder a uma acomodação sazonal do mercado de trabalho, um movimento típico que ocorre nos primeiros meses de todo ano, outros fatores podem estar influenciando os números. Poucos dias atrás, comentando a Pnad Contínua de janeiro, a mesma Adriana Beringuy havia dito que não sabia “até que ponto o que está prevalecendo é um comportamento sazonal ou uma perda de força”. Ainda que o aspecto sazonal mereça consideração, existe a sensação de que há uma desaceleração forte da economia, isso se não estivermos prestes a viver uma retração. Além disso, a hostilidade do governo em relação ao empreendedor é evidente e, combinada com o atual patamar dos juros estabelecidos pelo Copom para combater uma inflação ainda alta e resiliente, contribui para uma redução no estímulo ao investimento que geraria emprego e renda.

Em outras palavras, o desemprego continua a ser uma ameaça muito forte e que exige políticas públicas de fomento às contratações. Lula e o ministro Luiz Marinho, no entanto, parecem continuar presos na ilusão de que um mero reaquecimento da economia, baseado em crédito fácil, bastará para resolver as deficiências do mercado de trabalho. Esta fórmula, no entanto, já foi testada no passado; os primeiros resultados positivos logo se mostraram insustentáveis, e foram completamente revertidos pela pior recessão da história do país, causada pela mesma política econômica irresponsável. Enquanto isso, problemas reais como a insegurança jurídica, uma legislação trabalhista ainda engessada e a tributação sobre a folha de pagamento seguem sem perspectiva de solução.

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