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Editorial

A aproximação comercial entre Brasil e Estados Unidos

(Foto: Alan Santos/PR)

As relações comerciais do Brasil com o resto do mundo devem ser examinadas e decididas com bases em algumas premissas. Primeiro, há produtos de que o Brasil necessita e não produz, ou produz em quantidades suficientes; e há produtos para os quais o país tem condições favoráveis de produção, com capacidade de abastecer o mercado interno e gerar excedentes exportáveis. Segundo, há necessidade urgente de expandir os investimentos nos setores da infraestrutura física, infraestrutura empresarial e infraestrutura social, e para isso é importante atrair investimento estrangeiro direto (que é a implantação ou expansão de empresas em território brasileiro por empresários estrangeiros). Terceiro, a indústria brasileira é dependente de importação de máquinas, equipamentos, peças, componentes e insumos. Quarto, o país está atrasado em relação ao grau de conhecimento tecnológico incorporado no sistema produtivo quando comparado com as nações mais adiantadas; logo, é urgente a importação de tecnologias desenvolvidos no resto do mundo. Quinto, com 2,7% da população mundial, o Brasil responde apenas por 1,2 % do comércio internacional, e isso é muito pouco considerando o tamanho do território nacional e a abundância de recursos naturais. Sexto, a saída da recessão e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dependem do aumento do consumo interno e também das exportações.

Com algumas ressalvas, praticamente todas as correntes políticas nacionais concordam que o Brasil deve elevar o grau de internacionalização de sua economia, expandir a participação no comércio global, tornar-se atrativo para o investimento estrangeiro, ampliar a base de países com os quais firmar acordos comerciais e adotar uma ousada política de fechamento de convênios com o resto do mundo. Assim, a diretriz de desdenhar as nações adiantadas, até mesmo hostilizando-as – como aconteceu em governos passados –, é um equívoco grave, pois os mercados das nações ricas são amplos e bons compradores dos produtos brasileiros. A opção por um mercado não implica excluir o outro. Enquanto fornece produtos para nações pobres, ou de outros espectros políticos e religiosos, o Brasil deve cultivar também os mercados da China, Estados Unidos e Argentina, que são os três maiores parceiros comerciais do comércio exterior brasileiro; deve levar adiante o acordo com os países da União Europeia; e trabalhar pela ampliação de mercados onde os produtos brasileiros têm sido pouco consumidos. Em relação ao PIB, a participação do comércio exterior brasileiro fica girando em torno de 23%, e o governo já declarou que, nos próximos quatro anos, pretende elevá-la para 30%.

Desdenhar as nações adiantadas, até mesmo hostilizando-as – como aconteceu em governos passados –, é um equívoco grave

Um caso especial é a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. O presidente Jair Bolsonaro vem declarando que seu governo buscará a aproximação com as grandes economias liberais que têm bens, serviços, tecnologia, investimentos e capitais financeiros para oferecer – entre as quais, obviamente, os Estados Unidos. Neste contexto, há um problema a ser contornado: a condição de membro do Mercosul atrapalha muito o fechamento de acordos comerciais isolados, pois reduções bilaterais de tarifas precisam do aval dos outros países do bloco. Isso pode ser obstáculo para o Brasil, pois, dos demais membros do Mercosul, Argentina e Venezuela são historicamente hostis aos Estados Unidos – a Venezuela está suspensa, mas a Argentina corre o risco de voltar a abraçar o protecionismo se a chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner vencer as eleições de outubro. O governo brasileiro já declarou que pretende buscar maior independência em relação ao Mercosul; afinal, por mais que tenha sido o bloco a assinar o acordo com a União Europeia graças ao atual viés liberal da maioria de seus membros, o crescimento do comércio internacional brasileiro pode acabar amarrado por mudanças de orientação nos vizinhos.

De qualquer forma, o Ministério das Relações Exteriores tem dito que pretende seguir trabalhando para firmar acordo com os Estados Unidos, pois Brasil e EUA são os dois maiores países do continente americano, têm economias dinâmicas e diversificadas, e há grande convergência de valores e interesses. Além disso, os EUA já são o principal destino das exportações brasileiras de produtos manufaturados, além de serem um investidor tradicional no Brasil. Em nota, o Itamaraty afirmou ainda que as empresas brasileiras têm investido cada vez mais nos Estados Unidos como forma de ganhar escala, absorver tecnologia e lançar-se ao mundo, e que as relações entre as respectivas sociedades também vêm ganhando importância por meio do incremento de viagens de turismo e negócios, intercâmbio acadêmico e atividades culturais.

O Itamaraty fala que os dois países têm interesse em elevar a qualidade das relações bilaterais, e cita especificamente a melhoria do ambiente de negócios e o fomento dos investimentos, a facilitação e desburocratização do comércio, a ampliação das iniciativas conjuntas em ciência, tecnologia e inovação, e o fortalecimento da cooperação em matéria de defesa, segurança, energia, espaço exterior, educação e cultura. Nunca é demais lembrar que a revolução tecnológica moderna e os mais importantes inventos que estão modificando a economia mundial concentram-se nos países adiantados, incluindo, por óbvio, os Estados Unidos. Mas a intenção de ampliar as relações entre os dois países não existe apenas no lado brasileiro. O governo dos Estados Unidos acaba de declarar abertamente que quer ampliar as relações com o Brasil e firmar acordos comerciais.

As relações entre o Bolsonaro e o presidente Donald Trump são boas e próximas, a ponto de o presidente norte-americano ter dito que os Estados Unidos irão trabalhar para fechar um acordo de livre comércio com o Brasil, o que foi definido pelo secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia brasileiro, Marcos Troyjo, como um “tratado mais ambicioso e abrangente possível”. Troyjo lembrou que há várias formas de acordos e parcerias comerciais possíveis, mas o governo brasileiro deve buscar um entendimento que inclua a retirada de tarifas e a criação de cotas de importação com menos tributos. Entretanto, um acordo desse tipo terá de ser fechado com o aval dos demais parceiros do Mercosul. Em resumo, Brasil e Estados Unidos vivem um bom momento nas relações bilaterais, cujos resultados podem ser benéficos para o projeto de tirar o Brasil da grave crise e do elevado desemprego.

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