Chegado o sétimo dia da paralisação dos caminhoneiros em todo o território nacional, mesmo com as suspeitas de locaute e as privações que estão sendo impostas à população brasileira, não se pode negar que o movimento conta com uma boa dose de simpatia popular e de parte do setor produtivo. Com lideranças dispersas e uma comunicação horizontal que se espalha por aplicativos de mensagens, o movimento paredista segue firme. O governo federal, por sua vez, está com sua autoridade moral tremendamente comprometida. A intervenção das Forças Armadas, anunciada na sexta-feira (25) à noite, está operando, bastante lentamente e com a cautela necessária, para garantir combustíveis para o transporte público, a segurança pública e os aeroportos, além de viabilizar outros serviços essenciais à população. No entanto, ainda há muita incerteza e, com o tempo que passa, mais animais correm o risco de morrer, produtos estragam nas mãos dos produtores e não se descartam consequências mais graves para os brasileiros.
Nossas convicções: O valor da democracia
O impasse é tamanho que não cabe mais discutir, como já fizemos neste espaço, a razoabilidade desta ou daquela solução – cada uma carrega consigo mais ou menos ônus e agrada de forma diferente aos setores bastante heterogêneos entre os próprios caminhoneiros. Dito isso, quando se olha para o cenário de forma mais distanciada, sabemos que os combustíveis são fortemente onerados por impostos; que reduzir a carga tributária é uma agenda benéfica para o país (se os gastos públicos forem reduzidos também); e que os caminhoneiros estão enfrentando grandes dificuldades com os baixos preços dos fretes. Todas as distorções que ajudaram a deflagrar a confusão precisam ser revistas e são frutos de muitas escolhas erradas do passado.
Opinião da Gazeta: Restabelecer a legalidade (editorial de 26 de maio de 2018)
É até compreensível que os caminhoneiros se perguntem por que têm de arcar com os custos de erros do passado. Muitos brasileiros se compadecem das reivindicações e engrossam o caldo do descontentamento, porque todos os setores da vida nacional estão cansados dos escândalos de corrupção, da alta carga tributária que não se reverte em bons serviços públicos, de uma classe política que transformou o Congresso Nacional em um balcão de negócios e de um presidente da República que guarda pouquíssima autoridade moral. Enfim, é positivo que as pessoas tenham disposição para reivindicar um país melhor, mas isso deve feito de forma razoável e dentro dos parâmetros de convivência democrática.
O que realmente nos preocupa, e com o que não podemos concordar, é que a atuação de um movimento coloque o país à beira de um caos econômico e, eventualmente, social e político. Imaginem, ainda mais agora que o governo demonstrou estar fragilizado, se cada categoria profissional ou produtiva resolver paralisar suas atividades por completo até ter todas as suas demandas atendidas. Todos os motoristas autônomos que rodam com gasolina e álcool, e não com diesel, podem parar para que se reduzam também os preços de seus combustíveis, o que de fato já se aventa. Os petroleiros, por mais que se questione sua motivação política, já anunciaram uma greve de 72 horas a partir da próxima quarta-feira (30). Outras pautas começam a pipocar. Não por acaso, o economista Eduardo Gianetti da Fonseca falou na possibilidade de o movimento dos caminhoneiros levar a uma “rebelião tributária” no país. Todas essas reivindicações são legítimas, mas rapidamente se vê que uma situação assim não seria razoável.
É passada a hora de os caminhoneiros aceitarem a trégua proposta pelos governos estaduais e federal e que os setores que simpatizam com o movimento chamem os grevistas à razoabilidade
Estamos a poucos meses das eleições nacionais. O país terá a oportunidade de investir um novo presidente da República com a autoridade moral e a legitimidade que o cargo requer e de debater as questões mais prementes da vida nacional. Com a nova configuração do campo político, teremos a oportunidade de discutir a carga tributária, o corte e a eficiência dos gastos públicos e o planejamento da infraestrutura. Poderemos cobrar primeiro dos candidatos, depois das autoridades eleitas, propostas sólidas para resolver nossos problemas mais urgentes e recuperar a capacidade de planejamento no longo prazo. Não vivemos um beco sem saída nem um regime autoritário. Pelo contrário, o início da solução mais viável, que não traz todos os riscos da conflagração, está apenas a cinco meses de nós, quando escolheremos um novo presidente, novos governadores, novos deputados, senadores e parlamentares estaduais.
POpinião da Gazeta: Democracia atropelada (editorial extraordinário de 25 de maio de 2018)
Por mais que as instituições estejam esgarçadas, por mais que as pessoas estejam com raiva, por mais que as soluções radicais tenham seu apelo e pareçam convidativas, o Brasil tem instituições capazes de manejar as crises até a chegada das eleições. A opção pelo caos social já custa pelo menos R$ 3 bilhões aos setores mais atingidos pela greve e esse custo pode aumentar rapidamente se a situação se conflagrar. É passada a hora de os caminhoneiros aceitarem a trégua proposta pelos governos estaduais e federal e que os setores que simpatizam com o movimento chamem os grevistas à razoabilidade.
Hugo Motta troca apoio por poder e cargos na corrida pela presidência da Câmara
MST reclama de lentidão de Lula por mais assentamentos. E, veja só, ministro dá razão
Inflação e queda do poder de compra custaram eleição dos democratas e também racham o PT
Governo Lula quer que chineses lancem satélites concorrentes de Musk em base brasileira
Deixe sua opinião