Com o fim do primeiro semestre se aproximando e a previsão de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2017 será em torno de 1% maior que o de 2016, a possibilidade de minimizar o baixo crescimento desta segunda década do século 21 repousa no desempenho econômico dos três anos de 2018 a 2020. O único caminho para evitar a piora da pobreza começa com o crescimento do PIB em taxa suficiente para repor o desgaste do capital físico – que é a soma da infraestrutura física, a infraestrutura empresarial e a infraestrutura social – mais a taxa de crescimento da população. O progresso material e a redução do baixo padrão médio de bem-estar começam quando o PIB cresce a uma taxa superior à necessária para repor o capital e atender o aumento do número de habitantes.
A recessão econômica que acometeu o Brasil nos últimos quatro anos jogou o PIB de 2016 abaixo do PIB de 2013 em 7,4%, enquanto a população seguia crescendo, de forma que é necessário acelerar a taxa de crescimento para compensar a queda derivada da recessão mais uma taxa capaz de elevar a renda por habitante. Em resumo, o Brasil precisa ter crescimento expressivo e precisa que esse crescimento seja sustentado, no sentido que os economistas dão a essa expressão: crescimento do PIB todos os anos, de forma regular, à taxa superior ao crescimento da população. Essa busca deve ser tarefa do governo, das empresas e das pessoas, e é necessário que as medidas requeridas para tanto sejam tomadas com urgência, principalmente porque o país tem renda por habitante inferior a US$ 11 mil por ano, contra US$ 55 mil nos Estados Unidos e US$ 38 mil na Inglaterra.
Várias reformas foram feitas, mas o trem da economia desandou nos últimos anos
Quando o Plano Real foi implantado, em 1994, muito mais como um remédio para curar uma doença crônica – a inflação – que para promover o crescimento sustentado, já se sabia que o fim da inflação que castigava o Brasil desde 1979 era condição necessária, mas não suficiente, para levar ao crescimento do PIB. Vagarosamente, várias reformas foram feitas desde então, mas o trem da economia desandou nos últimos anos e, paralelamente, as contas públicas no âmbito dos municípios, estados e União pioraram gravemente; a recessão foi o castigo merecido de uma nação que abusou de políticas erradas.
Se a inflação não é um problema que preocupa no momento, a reorganização das contas fiscais e o redirecionamento do gasto público são componentes essenciais para consertar o sistema estatal brasileiro, agravado pela profunda e ampla crise jurídico-moral derivada da Operação Lava Jato e outras tantas que colocaram a descoberto a engrenagem de corrupção que tomou conta do governo e dos partidos políticos. Sem isso, não há como recuperar os investimentos governamentais na infraestrutura física – que, no Brasil, tem alto grau de estatização –, induzir a retomada da confiança na economia e promover os investimentos privados nacionais e estrangeiros.
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Em 1994, ano do Plano Real, a meta era chegar a 2020 com renda por habitante em US$ 25 mil por ano, valor capaz de permitir a superação da pobreza e a entrada no grupo dos países desenvolvidos. A oportunidade nascida em 1994 foi parcialmente desperdiçada e não será possível atingir essa meta antes de 2040. Uma das condições é o crescimento sustentado a partir do ano que vem. O problema, entretanto, é que o país está se tornando contumaz em um grave erro: a demora em enfrentar suas distorções e fazer as reformas estruturais necessárias. Sem isso, o crescimento sustentado pode não vir.
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