A presidente eleita, Dilma Rousseff, começa a dar "cara" ao seu governo. Durante a semana que passou, a fisionomia começou a revelar traços bastante semelhantes àqueles que marcaram o governo Lula – nada surpreendente, tendo em conta que também ela pertenceu a esse governo e milita no mesmo estrato político, ideológico e administrativo do lulismo. Não se afastou, pois, da expectativa de todos conhecida ao anunciar os nomes que comporão sua equipe econômica – Guido Mantega, na Fazenda; Miriam Belchior, no Planejamento; e Alexandre Tombini, no Banco Central.

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Ocupante do cargo já desde a primeira gestão de Lula, Guido Mantega é de todos conhecido: burocrata disciplinado com sensibilidade política suficiente para não causar estragos nessa área, Deu continuidade à política econômica que herdou de seu antecessor imediato (o ministro Antonio Palocci Filho), mas acumulou crédito próprios ao conduzir com segurança e eficácia a economia nacional durante a crise financeira mundial de 2008.

Miriam Belchior era assessora de Dilma na Casa Civil, com a incumbência específica de acompanhar a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Tem, portanto, conhecimento e vivência quanto a esse que é o carro-chefe da administração federal quando se fala em investimentos. E é ao Ministério do Planejamento que o PAC se vinculará a partir de janeiro próximo.

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Já em relação ao novo presidente do Banco Central, o economista Alexandre Tombini, servidor de carreira, não se deve esperar, em princípio, mudança substancial na orientação implementada por Henrique Meirelles ao longo desses oito anos em que esteve à frente do BC. Suas primeiras declarações legitimam essa inferência, pois se disse satisfeito com a garantia dada pela presidente de que o regime de metas de inflação e a independência operacional não serão alterados.

O perfil técnico da equipe e suas ligações históricas com o governo que finda retrata bem a assertiva de que não ocorrerão mudanças drásticas na condução da política econômica a partir da posse da nova administração federal. Pode-se esperar, contudo, que, diante da realidade que será herdada – inflação em leve alta, gastos excessivos e premente necessidade de investimentos na área de infraestrutura – que ajustes devam ser feitos.

Aliás, tais ajustes foram já anunciados na primeira coletiva concedida pela equipe, na última quinta-feira. Basicamente, em conjunto, refletindo o que dizem ser orientação de Dilma Rousseff, sua atuação estará voltada para conter o gasto (Mantega se posicionou contrário aos aumentos de aposentados e policiais e pediu parcimônia aos demais Poderes), aumentar a taxa de investimentos públicos, melhorar a poupança interna e conceder maior espaço à participação da iniciativa privada nos projetos nacionais.

Embora em outra área que não a econômica, a indicação do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci completa a "cara" lulista do governo Dilma. Defenestrado da pasta após envolver-se no escândalo da quebra de sigilo bancário de um caseiro na metade da gestão anterior, sua escolha para chefiar a Casa Civil representa – além da própria reabilitação – sinal de que também não ocorrerão solavancos no relacionamento do governo na área política.

Se não há expectativa quanto a eventuais mudanças drásticas em quaisquer das áreas de atuação, política ou econômica, o que se espera do novo governo é que, enfim, tendo recebido uma herança que Dilma Rousseff já classificou de "bendita", que o país caminhe agora com mais rapidez para vencer seus grandes desafios, especialmente no que diz respeito à recuperação do que nos resta de infraestrutura e de investimentos sobretudo em logística de transportes.

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