Apesar de enfrentar um grande desafio na política interna dos Estados Unidos, com o processo de impeachment, Donald Trump tem mais motivos para se preocupar neste final de ano.
Imagens de satélite indicam que a Coreia do Norte ampliou uma fábrica de equipamentos militares usados para o lançamento de mísseis balísticos intercontinentais. Em outra notícia preocupante, do início deste mês, foi informado que o país asiático reativou uma base de lançamento de foguetes que estava parcialmente desmontada após o início das negociações para desnuclearização da península. Kim Jong-un, o ditador norte-coreano, chegou a chamar Trump de “velho errático” na ocasião.
Para se ter uma ideia, desde o primeiro encontro entre os dois líderes em junho do ano passado, a Coreia do Norte já realizou mais de uma dezena de testes de mísseis de médio alcance e foguetes.
Kim está agindo, portanto, de maneira contrária a que o presidente dos EUA esperava desde que começaram as negociações bilaterais, dando a pensar que o ditador nunca falou a sério sobre o desmantelamento de seu arsenal.
Mas será que Trump agiu sempre da melhor forma ou teria também cometido erros que, em vez de pacificar a península, apenas podem ter prolongado brevemente um período de paz ou, na pior das hipóteses, fornecido mais tempo para o fortalecimento militar da Coreia do Norte?
Analistas apontam que Kim estava realmente preocupado com a opção “fogo e fúria” do governo americano e que, no primeiro encontro em Singapura, queria ter resolvido a questão. Trump, no entanto, não conseguiu chegar a um entendimento do que seria a “desnuclearização completa da península coreana” e tampouco pôde cumprir com a promessa de encerrar com os exercícios militares conjuntos entre EUA e Coreia do Sul. (Esta última, desde a Guerra Fria, é um importante aliado estratégico-militar dos EUA, e acaba sendo um “porta-aviões gigante” americano na região.)
Esse cenário atrapalhou o diálogo posterior entre os dois líderes, e houve uma quebra de confiança de ambas as partes.
Paralelamente, Trump movia sua guerra comercial com a China, o que pode até ter ajudado economicamente os EUA, mas impediu uma cooperação maior entre as duas potências para o fim do impasse norte-coreano.
Desde o início de seu mandato o presidente americano optou por ações bilaterais e unilaterais para a resolução de conflitos globais, mas é de se perguntar se o peso americano em órgãos multilaterais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas, não seria um melhor caminho para resolução de conflitos.
Após ameaçar vários países com um confronto militar, e obter tão pouco, Trump sozinho não soa hoje tão convincente.
Ao manter sua presença militar na Coreia do Sul, sem ao menos tentar uma via alternativa, os EUA pedem o fim do poder bélico norte-coreano em troca de apenas promessas de investimento e de desmilitarização.
Kim já mostrou que não considera isso suficiente, e as perspectivas de desmilitarização progressiva da Coreia do Norte para 2020 não são nada boas.
Resta saber se uma alternativa multilateral que congregue esforços das nações mais importantes pode reverter o quadro, mas para isso é preciso do interesse de todos, sobretudo de Trump e dos Estados Unidos.