A ONG Transparência Internacional divulgou, na quarta-feira, a mais nova edição do Índice de Percepção da Corrupção, correspondente a 2017, e o Brasil continua a cumprir sua sina de cair nos rankings mais diversos: de 180 países, aparece em 96.º lugar, tendo perdido 17 posições. O índice vai de zero (mais corrupção) a 100 (menos corrupção), e o Brasil tem 37 pontos, três a menos que na edição de 2016.
Importante ressaltar que o índice não mede a corrupção objetivamente, mas a sua percepção entre a população. A própria Transparência Internacional explica que, em países onde a corrupção é prática frequente, a descoberta e ampla divulgação de um esquema tende a tornar o cidadão mais consciente da roubalheira que ocorre à sua volta, o que por sua vez contribui para números piores no índice. No entanto, se depois do impacto inicial há a efetiva punição dos responsáveis, a população tende a acreditar que a corrupção está sendo combatida, o que por sua vez refletiria em melhoria no índice. E o Brasil da Lava Jato é o exemplo perfeito dessa dinâmica.
O índice medido pela Transparência Internacional tem caído desde 2014, no caso brasileiro. Isso coincide com o estouro do petrolão e as primeiras prisões da Lava Jato, que não pouparam figuras importantes da política nacional. O brasileiro descobriu – mais uma vez – que vinha sendo roubado em um esquema montado para garantir o projeto de poder petista, desta vez por meio da pilhagem da Petrobras. As fases da Operação Lava Jato se sucediam, e o juiz Sergio Moro começava a emitir as primeiras condenações. Tanto que, em 2016, a percepção da corrupção entre o brasileiro manteve-se estável: havia um fio de esperança de que este grande mal estava, finalmente, sendo combatido como se deve.
O Brasil da Lava Jato é o exemplo perfeito da dinâmica medida pela Transparência Internacional
Mas 2017 trouxe uma série de baldes de água fria: o Supremo Tribunal Federal não julgou nenhum dos réus da Lava Jato com foro privilegiado; Michel Temer continuou mantendo a seu lado figuras suspeitas como Eliseu Padilha e Moreira Franco, este último transformado em ministro para ganhar uma “blindagem”; e o próprio Temer se viu no olho do furacão com as gravações de Joesley Batista, tendo de gastar seu capital político no Congresso para escapar de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República. A condenação de Lula por Sergio Moro (a confirmação desta decisão, tendo ocorrido já em 2018, não impactou o índice da Transparência Internacional) não foi suficiente para impedir a população de perceber que o combate à corrupção estava chegando a um beco sem saída.
E, neste ano eleitoral, se o brasileiro está se tornando mais consciente da corrupção que permeia seu ambiente político, ele saberá usar essa informação sabiamente? No passado, o “rouba, mas faz” havia encontrado sua encarnação no ex-prefeito e ex-governador paulista Paulo Maluf, eleito e reeleito inúmeras vezes a despeito dos escândalos em que se via envolvido – em 2006, Maluf foi eleito deputado federal e conseguiu a reeleição duas vezes; agora, está preso na Papuda, com o mandato suspenso por decisão do presidente da Câmara.
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Maluf pode estar com a vida política perto do fim, mas a mentalidade que fez dele um vencedor nas urnas ainda persiste. Só isso explica que partidos e figuras que foram protagonistas de todos os escândalos de corrupção recentes continuem gozando de algum prestígio popular, apoiando-se na mística mentirosa do “nunca antes na história deste país” para alegar que fizeram muito pelos pobres, quando na verdade se aproveitaram do legado (jamais reconhecido) de antecessores e de uma conjuntura internacional favorável para promover um “crescimento” e uma “inclusão social” que foram totalmente anulados pela maior recessão de nossa história.
Não basta que o brasileiro perceba a corrupção; é preciso que ele a trate como um critério importante – se não o principal deles – na hora do voto. O “rouba, mas faz” é uma ilusão em que se pequenas melhorias são oferecidas para que o cidadão feche os olhos a uma prática que mantém o Brasil no atraso.