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Editorial 1

A credibilidade do Enem

Os erros e a confusão causados pela prova do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, são inacreditáveis e inaceitáveis. Não bastassem todos os problemas provocados pela edição do ano passado, com o vazamento da prova e consequente remarcação – originando coincidência de data com alguns dos principais vestibulares do Brasil e assim prejudicando os estudantes –, desta vez a avaliação corre risco de cancelamento. Esperava-se que, neste ano, o Ministério da Educação tivesse tomado todas as medidas necessárias para garantir a segurança e a eficiência da realização da prova, como um aprendizado pelo acontecido em 2009. Não foi o que ocorreu.

Erro na montagem dos cadernos de prova, perguntas repetidas com numerações iguais e perguntas iguais com numerações diferentes, falhas na segurança, com estudantes entrando com aparelhos de celular (o que era proibido). Estamos falando de uma prova que tinha 4,6 milhões de inscritos – 3,3 milhões desses compareceram em 1.698 cidades, nas 27 unidades da Federação. Diante de tamanha confusão, uma liminar, concedida pela juíza federal Carla de Almeida Miranda Maia, da 7.ª Vara Federal, no Ceará, ordenou o cancelamento da prova em todo o Brasil. O Ministério da Educação entrará com recurso da decisão, mas a gravidade do caso está na credibilidade dessa avaliação, tão elogiada por educadores, que está em risco.

O Enem nasceu como forma de diagnóstico do Ensino Médio, em 1998. Desde 2004, a prova também serve como passaporte de entrada para universidades cadastradas. A nota é levada em conta pelo Prouni, programa que distribui bolsas de estudos em faculdades particulares. Além disso, dezenas de universidades pelo país usam o exame para complementar ou até substituir o vestibular. Entre elas, 59 universidades federais. Assim, a avaliação democratiza a entrada no ensino superior. Uma proposta ousada e amplamente apoiada por educadores porque ela é capaz de fazer uma mudança rápida e estrutural no sistema de ensino. Isso porque privilegia a reflexão e não o sistema "decoreba" que reinava nas seleções de vestibular. Assim, o próprio ensino médio vai se reestruturando também nesse sentido.

Não é possível pensar em acabar com o Enem. Não se deseja a volta ao modelo antigo. O exame torna a seleção menos excludente, dá acesso a pessoas que não teriam como pagar uma faculdade, ou concorrer com estudantes que tiveram o ensino nas melhores escolas disponíveis.

Porém, mesmo que a prova seja refeita para apenas 2 mil pessoas – número estimado de estudantes prejudicados –, o que está em jogo é a confiança no exame e também a falta de uma gestão pública eficiente. A prova custou aos cofres públicos R$ 128,5 milhões. No ano passado, o problema foi a falta de segurança na gráfica que imprimiu as provas. Neste ano, uma das alegações para os erros foi justamente o sistema de sigilo que impediu a checagem correta das questões. Ou seja, uma justificativa inaceitável para uma avaliação tão importante como esta.

É uma série de confusões causada, que deve vir à tona nos próximos dias. Dos governantes, não se espera outra coisa a não ser a punição de todos os responsáveis pelos erros e também que assumam seus próprios equívocos. A primeira declaração por parte do MEC, ainda no fim de semana, foi feita na tentativa de minimizar os erros. Ontem, o ministro da Educação, Fernando Haddad, mudou o tom e disse que será preciso"apurar a cadeia de responsabilidades nesse caso específico".

Será preciso mais do que apurar os responsáveis. Será essencial apurar como uma avaliação tão grande e tão importante como se tornou o Enem tem falhas graves como as ocorridas e como um ministério tão importante não consegue realizar o Enem da forma esperada.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

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