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A presidente Dilma Rousseff vem afirmando repetidamente que a causa dos indicadores ruins da economia brasileira é a crise internacional. Para ela, a inflação elevada, o crescimento baixo, o déficit fiscal e o déficit nas contas externas seriam problemas brasileiros cujas causas estariam na crise dos países desenvolvidos e no arrefecimento da taxa de consumo na China. Inicialmente, é preciso observar que é hábito dos governantes atrair para si o mérito das vitórias e culpar os outros quando os problemas aparecem.

Quando os preços das commodities exportadas pelo Brasil explodiram, entre 2002 e 2010, permitindo ao país acumular reservas internacionais de US$ 370 bilhões (valor superior à dívida externa), o governo nunca reconheceu que os bons ventos mundiais eram responsáveis pela boa situação brasileira. Atualmente, embora a retração dos preços das exportações tenha efeito negativo sobre as contas nacionais, a crise internacional não é culpada pelo atual estado lamentável dos principais indicadores da economia local.

Tomando o caso do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na América do Sul em 2014, o Brasil tem como companhia de péssimo desempenho apenas a Argentina (queda projetada para 1,4%) e a Venezuela (queda estimada em 2,5%). Os demais países irão, com poucas exceções, crescer mais que o Brasil, com destaque para a Colômbia, cujo crescimento está previsto para bater 5%. Cabe descobrir as razões pelas quais a crise mundial não jogou o PIB desses países a um patamar tão baixo quanto o brasileiro. A explicação está na política econômica interna – logo, as causas estão aqui e não no exterior.

Observando a inflação, novamente o Brasil está com as mesmas péssimas companhias. A Argentina vive inflação elevada, estimada por alguns organismos internacionais em mais de 35%. Esse dado, porém, não é confiável, pois publicações internacionais importantes, a exemplo da revista The Economist, deixaram de publicar a inflação argentina por considerar que a estatística do país não é confiável, pois o governo manipula claramente os índices. A Venezuela, que parece ainda não ter manipulado a real situação da inflação, anuncia que a elevação de preços em 2014 pode chegar a 62%.

Em entrevista concedida a um grupo de jornalistas na semana passada, a presidente Dilma voltou a fazer referência à crise internacional como responsável, em parte, pelos problemas brasileiros; afirmou que o Brasil goza da confiança internacional e apresentou, como prova, o valor do investimento estrangeiro direto no país. O fato é que os investidores veem o Brasil como um lugar promissor para desenvolver negócios e acreditam que os problemas econômicos sejam conjunturais, podendo ser superados no longo prazo caso o governo adote as políticas econômicas corretas.

Mas não é menos verdadeiro que os investidores temem a combinação de inflação alta, crescimento baixo e déficit no balanço de pagamentos (contas com o resto do mundo). Ainda que a taxa de confiança possa ser expressa no bom volume de investimento estrangeiro direto, eventual persistência dos indicadores ruins certamente levará os investidores a buscar opções mais atraentes para seu capital. Confiança apenas não basta, é preciso que os chamados "fundamentos macroeconômicos" se mantenham sólidos, coisa que o Brasil vem perdendo nos últimos anos.

Os homens que tomam decisões sobre alocação de capital sentados em suas mesas de operação ao redor do mundo estão de olho no anúncio do novo ministro da Fazenda e nas linhas mestras da política econômica nos próximos quatro anos. Embora a presidente seja a mesma, espera-se que Dilma Rousseff seja convencida a mudar o rumo de sua política em face dos maus resultados divulgados recentemente. A crise internacional servirá cada vez menos como desculpa para problemas internos, mesmo porque o mundo está entrando em fase de boas taxas de crescimento, conforme se nota pelas previsões de aumento do PIB em 2014: Estados Unidos (2,2%), China (7,3%), Reino Unido (3,1%), Índia (6%), Canadá (2,3%), Japão (1%), Coreia do Sul (3,5%).

Com crescimento previsto de apenas 0,4%, o Brasil está fora da rota de expansão verificada em importantes países do mundo. Por isso, é necessário reconhecer que os problemas estão aqui dentro e que as soluções passam por uma política econômica mais eficiente.

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