Nicolás Maduro marcha com as tropas militares acompanhado pelo ministro da Defesa Vladimir Padrino (L), no “Fuerte Tiuna” em Caracas, Venezuela, em 2 de maio de 2019. Foto: Presidência/Jhonn Zerpa/AFP| Foto:

Após ter aparecido com um pequeno destacamento de militares, anunciando um racha no exército, no dia 30 do mês passado, Juán Guaidó não logrou o objetivo de derrubar Nicolás Maduro do poder.

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A quantidade de militares que se rebelaram a Maduro não era tão expressiva. Ainda assim o presidente interino contou com o apoio da população Venezuelana para a promoção de protestos e greves nos dias seguintes. Guaidó afirmou aos seus seguidores que: “nesta fase de nossa luta, não há retorno, temos que continuar nas ruas e com os protestos, já que estamos próximos de conquistar nossos objetivos”.

Contudo, os esforços até aqui foram em vão. Maduro aumento a repressão estatal durante os protestos: duas pessoas morreram, mais de 100 ficaram feridas e mais de 200 foram presas, segundo a oposição e a organizações de direitos humanos.

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Leopoldo López, um dos principais opositores do regime e que estava com Guaidó no dia do levante, não apareceu mais em público, por conta de sua situação judicial, e se refugiou na embaixada da Espanha em Caracas. Na qualidade de hóspede, segundo informou o ministro espanhol das Relações Exteriores, Josep Borrell.

Ainda há esperança de que o racha nas forças armadas venezuelanas aumente e que seja possível uma saída diplomática

O receio de López de ser preso novamente não é injustificado. Após o episódio do final do mês passado, Maduro intensificou a perseguição a seus inimigos políticos, chegando até a prender o vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Edgar Zambrano. Ele é o primeiro deputado preso após o levante de abril. Só em 2019, o país já registrou mais de 2.000 detenções por motivos políticos.

A prisão foi condenada, com razão, dentro e fora da Venezuela. Inclusive pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que em suas redes sociais considerou a detenção “ilegal e arbitrária”.

Mas tudo indica que Maduro não vai parar por aí. O Tribunal Supremo de Justiça, órgão chavista, ordenou um julgamento contra dez deputados envolvidos nas manifestações de 1.º de maio, dentre os quais três já procuraram asilo em embaixadas.

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Outro fato preocupante sobre a conduta do ditador bolivariano foi a denuncia do vice-presidente da ONG Foro Penal, Gonzalo Himiob Santome, de que militares que participaram dos eventos de 30 de abril e 1º de maio estão desaparecidos.  Segundo ele: “As autoridades, seus superiores hierárquicos, se negam a dar informação sobre o paradeiro destes militares”.

Leia também: A Venezuela entre a esperança e a guerra (editorial de 1.º de maio de 2019)

Leia também: A oposição venezuelana precisa de uma nova estratégia (artigo de Michael Shifter, publicado em 9 de maio de 2019)

O recrudescimento do regime faz crescer a hipótese de uma intervenção militar externa no país. Contudo, ainda há esperança de que o racha nas forças armadas venezuelanas aumente e que seja possível uma saída diplomática.

A oposição está buscando recuperar o ímpeto usando uma nova estratégia de “pressão e recompensa” para tentar convencer os militares a apoiar uma transição de governo. O plano é manter a pressão popular pela queda do regime e o temor de uma guerra com os EUA, enquanto procuram dar garantias abertas e “oficiais” para os conspiradores de dentro do regime de manterem seus cargos em um governo de transição. A estratégia, apesar de delicada, pode funcionar. E certamente é um caminho mais preferível que uma guerra aberta.

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Os últimos acontecimentos mostraram que quanto mais a crise se arrasta, mais o ditador bolivariano consegue se rearticular para se perpetuar no poder. Nesta quinta-feira (9), em ato falho, Maduro disse que “recentemente tivemos que trazer um grupo de 500 soldados cubanos” à Venezuela. E depois se corrigiu dizendo que se tratava de “soldados da saúde”. Entretanto, Estados Unidos, Brasil e Colômbia afirmam que milhares de militares cubanos estão atuando na Venezuela com a função principal de garantir a continuidade do regime chavista.

Nessas circunstâncias, é difícil saber a força real de cada um dos lados. Maduro tenta se agarrar ao poder de repressão estatal, mas Guaidó tem sido hábil em encontrar brechas no sistema para que o regime caia. Espera-se que os novos planos do presidente interino tenham êxito, e que ele possa finalmente recuperar a normalidade democrática da Venezuela.