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Editorial

A culpa é do mordomo?

O escoamento da safra, nessa época do ano, aumenta a visibilidade de um problema que não é sazonal: a segurança – ou insegurança – em nossas estradas. E aí, a presença maciça de caminhões assusta de maneira especial. O drama dos caminhoneiros é conhecido. Pelas dificuldades próprias da profissão e pela pressão ditada pela necessidade de concluir uma tarefa e iniciar outra, com a menor perda de tempo possível.

No primeiro Seminário sobre Segurança nas Rodovias, realizado em dezembro pelo Ministério dos Transportes, para esboçar uma política nacional de segurança de trânsito, discutiu-se questões ligadas a três áreas: educação, melhorias operacionais e repressão e controle. Foi dado ênfase à formação dos motoristas de caminhão, inclusive com o combate ao alcoolismo e ao excesso de peso nas carrocerias. Deve ficar claro, porém, e de imediato, que os motoristas não podem ser totalmente responsabilizados pelos acidentes, já que o principal problema é a falta de manutenção das estradas.

Esse profissional não é, ao contrário do que alguns observadores possam acreditar, o único ou maior vilão da história. Afinal, como frisaram os técnicos presentes ao seminário, o motorista que dirige numa estrada em ótimas condições tem muito mais capacidade de evitar acidentes. Já o que dirige numa rodovia esburacada, com falta de sinalização, trabalha sob o peso de uma tensão adicional. A viagem para ele é muito mais uma aventura, a luta pela sobrevivência.

Como alertamos na edição de ontem, em reportagem sobre o assunto, a malha viária paranaense ocupa o 5.° lugar no ranking nacional de custos provocados por acidentes, representando 5,45% de um total de R$ 22 bilhões. Já o conjunto das rodovias federais dos três estados do Sul aparece na 4.ª posição, com um baque de R$ 1,6 bilhão (7,27%), conforme cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

No Paraná, o diagnóstico mantém os contornos dramáticos. Devido ao excesso de velocidade, uso de drogas, cansaço e ultrapassagens perigosas, a imprudência aparece como o grande desafio. Completando o quadro, há o excesso de cargas em caminhões, a falta de manutenção nos veículos e de preparo dos motoristas. Junte-se a isso que a frota paranaense, de 150 mil caminhões, está envelhecida cerca de 20 anos.

Há um outro complicador: o aumento incessante da frota de veículos. Nos primeiros meses do ano já foram contabilizados 1.804 acidentes nas estradas federais do Paraná, com 1.146 feridos e 89 mortes. Todos os anos, segundo o Ministério dos Transportes, morrem dez mil pessoas apenas nas rodovias federais do país. Nas estaduais, no entanto, é que está o maior problema. A Secretaria de Política Nacional de Transportes cita como exemplo São Paulo, estado que apresenta as melhores rodovias do país. Nem por isso evita que o custo com acidentes chegue a R$ 3,3 bilhões por ano, o maior do Brasil.

Há mais personagens de peso em todo esse enredo do que se possa imaginar à primeira vista.

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