A Argentina é um caso raro de país que nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial era desenvolvido e com alta renda per capita, e conseguiu caminhar seguramente rumo ao abismo econômico e à pobreza social. Nos anos 50, a Argentina tinha renda por habitante maior que os Estados Unidos e, ao lado de Canadá e Austrália, despontava como uma nação de futuro brilhante.
Quando, em meados do século passado, o Brasil ainda patinava no alto analfabetismo e na baixa industrialização, a Argentina já era uma nação rica, com elevados níveis educacionais e considerada uma nação de primeiro mundo. Apesar de seu sucesso, o país conseguiu, governo a governo, destruir as bases institucionais erguidas no passado e termina a primeira década e meia do século 21 mergulhada em graves problemas econômicos, prenunciando que a caminhada para o atraso continua firme.
O governo da presidente Cristina Kirchner entrou no ano de 2014 promovendo uma maxidesvalorização cambial de 16,1%, pela qual a cotação do dólar oficial passou de 6,72 pesos para 8,01. A consequência sobre a inflação foi rápida: os preços dispararam, já que na matriz produtiva entram matérias-primas importadas, e o consumo nacional depende de um grande leque de produtos comprados no exterior. A reação do governo seguiu a velha cartilha argentina, cujos pilares são a estatização de empresas; a intervenção governamental no mercado; a má gestão das contas públicas; a briga com os capitais externos, sendo exemplos os calotes e as moratórias; e medidas anticapitalistas.
Para tentar conter a onda inflacionária, o governo do país segue em sua receita enferrujada e disfuncional. A presidente Kirchner partiu para uma espécie de congelamento parcial de preços e firmou acordo para manter os preços nos níveis de 21 de janeiro. Esse acordo foi firmado com empresas do setor de alimentos, insumos industriais, eletrodomésticos e outros produtos incluídos no chamado plano de "Preços Cuidados". O ministro da Economia, Axel Kicillof, partiu para a velha estratégia de culpar o mercado e os empresários, repetindo um comportamento já testado e provado que não funciona. Desde o imperador Diocleciano, uma a uma, todas as tentativas de congelamento fracassaram, e a razão é simples até certo ponto: o tabelamento de preços ataca os efeitos, mantendo inalteradas as causas. Mais cedo ou mais tarde, o problema retorna, geralmente de forma mais grave.
A Argentina consolidou a crença dos agentes nacionais e dos internacionais de que o país há décadas não consegue viver sob as bases da economia capitalista de livre mercado, que são: garantia do direito de propriedade, proteção dos contratos juridicamente perfeitos, estabilidade da moeda (ausência de inflação), liberdade econômica, redução da intervenção estatal na vida das pessoas e das empresas, abertura ao exterior e livre flutuação de preços, salários e câmbio.
A relação do país com o dólar é um exemplo da conduta estatizante e intervencionista típica do governo argentino. Quando um país abre sua economia para o comércio internacional e para o livre fluxo de capitais financeiros, a boa teoria recomenda adotar o câmbio flutuante. As tentativas de controlar o câmbio podem funcionar em prazo curto, mas não funcionam a longo prazo. Mais adiante o problema estoura, como sempre de maneira muito pior. O Brasil conseguiu controlar o câmbio até o início de 1999 e, quando a realidade se impôs, o preço do dólar disparou e o país adotou o câmbio livre, que funciona até hoje.
Em geral, as crises cambiais que provocam explosão do preço da moeda estrangeira resultam de problemas internos, como finanças públicas desequilibradas, déficits fiscais crônicos, controle artificial da taxa de juros, excesso de intervencionismo no mercado e inflação fora de controle. Essa é a situação da Argentina, país que não consegue entrar nos eixos há algumas décadas e vem decaindo da posição de riqueza obtida até os anos cinquenta do século passado.
Os governantes e os políticos argentinos deveriam tentar entender as razões de um país outrora rico e desenvolvido seguir trilhando, ano após ano, o caminho do fracasso econômico e da pobreza social. Se fizessem isso, iriam descobrir que a filosofia e os princípios básicos da nação são os mesmos há décadas e, portanto, seria bom tentar uma guinada radical. Isso levaria necessariamente à adoção de mais liberdade econômica, mais mercado e menos Estado.
Dê sua opiniãoVocê concorda com o editorial? Deixe seu comentário e participe do debate.
Deixe sua opinião