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editorial

A defesa do petismo

Eventos e manifestos em defesa do governo Dilma Rousseff e do PT têm se multiplicado e envolvido diversos segmentos: juristas e operadores do direito, artistas e escritores estão entre os que declararam apoio ao governo mais recentemente. Em comum, denunciam o “golpe” que estaria escondido no impeachment e criticam “excessos” do juiz Sergio Moro, do Ministério Público e da Polícia Federal na Operação Lava Jato. Em outras ocasiões, já tratamos dessas argumentações. Hoje, queremos nos debruçar sobre as motivações para a defesa do petismo. Sabemos que, para alguns, há interesses pessoais em jogo, como cargos ou verbas. Mas há quem defenda o PT por sua identificação com o partido e com ideais da esquerda. É a essas pessoas que nos dirigimos hoje.

Uma democracia se enriquece com o debate entre as várias correntes políticas. É evidente que há espaço no Brasil para uma esquerda comprometida com a lisura no trato da coisa pública e com o respeito ao Estado Democrático de Direito. A reflexão que gostaríamos de propor àqueles que defendem este ideal é: o lulopetismo pode ser considerado um representante legítimo desta esquerda?

Se hoje a polarização política se exacerbou, é porque Lula vem alimentando o monstro há muito tempo

Quanto ao primeiro aspecto – o compromisso com a ética na política –, é possível defender um partido que, desde os seus anos iniciais no governo federal, instalou um sistema de desvio de recursos públicos com as dimensões do mensalão, e que, uma vez flagrado, manteve o mesmo modus operandi, desta vez na Petrobras? É possível considerar que um partido prima pela honestidade quando seus corruptos condenados, com sentença transitada em julgado, foram e continuam a ser aclamados como “guerreiros do povo brasileiro”?

O segundo aspecto se liga ao primeiro. Porque os grandes esquemas de corrupção liderados por chefes petistas não se destinaram apenas ao enriquecimento pessoal, o que já seria suficientemente grave: eles foram criados para perpetuar o poder de um partido político, fraudando a própria democracia, como lembraram vários ministros do STF no julgamento do mensalão. Esta é a grande falha daqueles que têm assumido a defesa do PT por meio da crítica a supostos excessos da Lava Jato; sim, é necessário acompanhá-la do ponto de vista processual porque não se pode aceitar a arbitrariedade nem mesmo em nome de uma boa causa (felizmente, também segundo ministros do STF, a operação vem sendo conduzida dentro da legalidade). Mas, ao se apegarem única e exclusivamente a questões processuais, os críticos de Moro, do MP e da PF acabaram fechando os olhos a tudo que a Lava Jato tem mostrado ao Brasil com evidências avassaladoras: uma gigantesca rede de corrupção que ajudou a quebrar a maior empresa brasileira para colocá-la a serviço de um projeto partidário de poder.

E, no meio disso tudo, é impossível ignorar o papel do ex-presidente Lula. Se hoje a polarização política se exacerbou, é porque Lula vem alimentando o monstro há muito tempo – não apenas desde fevereiro do ano passado, quando convocou o “exército de Stédile” para ajudá-lo; nem quando disse, nas gravações recentemente divulgadas, que os “coxinhas” que aparecessem diante de seu apartamento deveriam “tomar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer”: Lula tem pregado o ódio dos pobres aos ricos há muito tempo. Diz que a “elite” e a classe média o odeiam por permitir que os pobres viajem de avião, mas ele mesmo evita qualquer voo de carreira, preferindo jatinhos bancados por amigos e empreiteiras. E ainda afronta a Justiça ao procurar se esconder da lei atrás de um cargo com foro privilegiado.

Nossa esperança é de que os petistas e demais defensores dos ideais de esquerda possam olhar com honestidade o tamanho do petrolão, bem como o discurso e as atitudes de pessoas como Lula, que colocam fogo no Brasil, e avaliem com sinceridade se é correto continuar a defender os seus protagonistas.

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