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Marco do setor ferroviário é uma das propostas que governo e Congresso se comprometeram em destravar.
Marco do setor ferroviário é uma das propostas que governo e Congresso se comprometeram em destravar.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Em agosto de 2007, esta Gazeta do Povo publicou editorial com o mesmo título deste, afirmando que o Brasil tem enorme dificuldade de mudar rumos, refazer concepções e, mesmo quando o faz, geralmente as mudanças são lentas e incompletas. Na sequência, vinha o alerta de que tal comportamento pode levar o país a desperdiçar oportunidades valiosas de promover o crescimento e melhorar as condições de bem-estar da população. Aquele texto poderia ser replicado hoje na íntegra, pois continua válido, com uma alteração: não é que tal comportamento nacional “pode” levar o país a desperdiçar oportunidades, mas efetivamente leva ao desperdício de oportunidades históricas para mudar e progredir.

Passados 13 anos, o país continua o mesmo, a população segue crescendo e o desenvolvimento econômico e social anda a passos lentos. A renda por habitante no fim de 2020 será a mesma, quando não menor em face da pandemia, que o valor no fim de 2010, e fará o país fechar a segunda década sem aumentar o padrão de bem-estar social médio, medido pelo conceito de renda per capita.

O subdesenvolvimento brasileiro não é obra do acaso, é fruto de deficiências políticas, institucionais, éticas, administrativas e culturais

Naquela oportunidade, ano de 2007, a crise financeira mundial estava começando a dar os primeiros sinais que acabaram estourando em 2008 e 2009 e produziram uma das mais graves crises da história recente. Mesmo assim, era um momento em que, segundo estimativas à época, havia perto de US$ 44 trilhões circulando pelo planeta em busca de oportunidades de investimentos diretos (criação de empresas e negócios produtivos). O capital estrangeiro anda pelo mundo à busca de participações em projetos empresariais na agricultura, na indústria, no comércio, no setor financeiro e, com a atual revolução tecnológica, em projetos disruptivos, sobretudo no setor de serviços. Entretanto, os setores clássicos da economia, por necessidades imutáveis, continuam sendo objeto de procura pelos investidores estrangeiros, a exemplo de energia, telefonia, portos, aeroportos, transporte, seguros, educação, saúde, turismo e lazer.

As crises econômicas são recorrentes e estarão sempre presentes. Por isso, tanto os governos quanto as famílias precisam incorporar, em seus planejamentos e gestão financeira de suas vidas, a premissa de que as crises se repetirão, cada uma com suas causas e peculiaridades. A crise de 2008-2009 foi grave, puxou para baixo a economia mundial, causou retração e falências, mas, por ela ter sido enfrentada com razoável êxito, imaginava-se que os anos 2011-2020, a segunda década, teriam cenários de crescimento econômico e desenvolvimento social. O Brasil adentrou a segunda década com bom resultado no enfrentamento da crise de 2008-2009, o que levou Lula, o presidente em fim de mandato, a dizer que por aqui a crise havia sido uma “marolinha”. Porém, quando o Brasil mergulhou em recessão profunda nos anos 2015 e 2016, a então presidente Dilma Rousseff culpou a situação internacional – que havia piorado, é verdade –, sem a humildade de qualquer autocrítica pelos enormes erros da política econômica de seu governo.

Assim, a recessão de 2015, sua repetição em 2016 e o estrago em 2020 em face da pandemia do coronavírus contribuíram para o atraso, de forma tal que o patamar de renda por habitante ao fim da segunda década não é maior do que era no do fim da primeira década do século. Mesmo com tão medíocre desempenho, o Brasil segue na velha incapacidade de mudar e tornar-se um bom lugar para investidores em busca de oportunidades. Há poucos dias, o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, anunciaram um esforço concentrado para aprovação de 11 projetos considerados prioritários, de um total de 25 projetos aguardando prosseguimento, para destravar a economia e criar condições para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a melhoria do nível de emprego. Entre esses projetos estão a autonomia do Banco Central, a nova lei de recuperação judicial e falências, o marco legal do setor ferroviário, a lei do gás, a legislação sobre navegação de cabotagem (transporte marítimo) e a modificação na lei de exploração do petróleo na área do pré-sal.

Definitivamente, chega a ser inexplicável que um país com tantos problemas, tantas carências e desesperado para crescer e gerar empregos, produto e renda tenha chegado ao início da terceira década deste século sem ter resolvido questões essenciais como aquelas constantes dos 11 projetos. A dificuldade de mudar é grande, mas a lentidão mesmo quando a mudança se faz é algo que os estudiosos da sociedade brasileira terão trabalho para entender, explicar e divulgar.

O subdesenvolvimento brasileiro não é obra do acaso, é fruto de deficiências políticas, institucionais, éticas, administrativas, culturais e de comportamento coletivo como nação. Mais triste é constatar que não há dificuldade em conhecer o diagnóstico nem quais soluções são adequadas, principalmente porque os problemas com os quais o Brasil é confrontado já foram equacionados com êxito pelas nações desenvolvidas; logo, a receita é conhecida. Cabe à sociedade cobrar do governo e do parlamento que efetivamente votem e aprovem os 11 projetos referidos ainda este ano.

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