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Energia elétrica foi o principal item a causar o novo salto da inflação em maio de 2021.| Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

O IPCA de abril, quando os preços subiram 0,31%, foi apenas um alívio temporário? O dragão voltou a colocar a cabeça para fora em maio, com alta de 0,83%, a maior para um mês de maio desde 1996 e acima das expectativas do mercado financeiro. O índice dá continuidade a um preocupante processo iniciado no fim do ano passado – nos últimos oito meses, seis tiveram inflação acima de 0,80%. Agora, o IPCA acumulado de 12 meses está em 8,06%, muito distante da meta inflacionária estipulada pelo Conselho Monetário Nacional para 2021, de 3,75%.

Todos os nove grandes grupos de itens pesquisados pelo IBGE tiveram aumento, liderados por habitação (com alta de 1,78%) e transportes (1,15%). É nestes dois grupos que estão os principais vilões da inflação de maio: a energia elétrica, que subiu 5,37% e correspondeu a 0,23 ponto porcentual do índice, e a gasolina, com aumento de 2,87% e impacto de 0,17 ponto porcentual – ou seja, apenas esses dois itens responderam por quase metade da inflação do mês, sem contar o efeito do repasse dos gastos com energia e combustível em todos os demais preços.

Avanço da inflação coloca ainda mais responsabilidade sobre o Copom, que se reúne na próxima semana para definir nova alta dos juros

E, ao menos no caso da energia elétrica, as perspectivas não são nada animadoras. Em maio, o país ainda estava sob o efeito da “bandeira vermelha 1”, com energia mais cara devido ao uso de usinas termelétricas para compensar o nível baixo dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Em junho, com a piora da crise hídrica, está vigorando a “bandeira vermelha 2”, o patamar mais alto e que encarece ainda mais a energia, com um adicional de R$ 6,243 para cada 100 quilowatts-hora consumidos, contra R$ 4,169 na “bandeira vermelha 1”. A probabilidade, portanto, de a energia elétrica voltar a puxar para cima o IPCA de junho é bastante grande.

O novo salto da inflação lança dúvidas sobre a próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne na próxima semana para definir a taxa básica de juros, a Selic. Na reunião anterior, em maio, o comitê já havia antecipado que em junho viria uma nova elevação de 0,75 ponto porcentual, o que deixaria a Selic em 4,25% ao ano. Mas será suficiente para conter a inflação, ou o Copom terá de agir de forma mais drástica, elevando ainda mais os juros?

Um aumento mais forte neste momento para tentar conter de vez a pressão inflacionária afetará a atividade econômica justo quando as previsões para o PIB de 2021 vinham se tornando cada vez mais otimistas, com prognósticos na casa dos 5% começando a ser vistos como plausíveis, em vez de um sonho distante. Frear o crescimento ainda reduzirá as esperanças de o Brasil ver finalmente diminuídas suas absurdas taxas de desemprego, desalento e subemprego. Por outro lado, não há como ser leniente com a inflação, um imposto indireto que pune especialmente os mais pobres ao reduzir-lhes um poder de compra já bastante minado pela recessão da pandemia.

Como a prioridade do Banco Central ainda é o controle da inflação, o mais provável é que o Copom faça o que for preciso para conter os preços. Seus membros estariam em situação mais complicada se, na lei da autonomia do BC, o Congresso tivesse aprovado o “mandato dual”, colocando outros objetivos em pé de igualdade com o controle da inflação; no fim, a lei elenca o combate ao desemprego e o crescimento econômico como objetivos secundários. Isso não significa, evidentemente, que a necessidade de elevar os juros para segurar a inflação justifique fechar completamente os olhos para as outras duas missões. Dosar o remédio para não virar veneno exigirá do Copom uma prudência acima do comum nos próximos dias.

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