Em 2009, os países desenvolvidos, com os Estados Unidos à frente, dedicaram-se ao esforço de evitar que a crise financeira destruísse suas economias e levasse a uma depressão pior do que aquela verificada em 1930. Foram acionados instrumentos de política econômica não conhecidos há 80 anos, com destaque para a injeção de trilhões de dólares no sistema bancário a fim de manter o fluxo de financiamentos às empresas e às pessoas. A segunda medida mais importante foi a intervenção dos governos para impedir que a inadimplência dos devedores em escala nunca vista provocasse uma avalanche de perdas para os poupadores que tinham dinheiro aplicado no sistema financeiro. A terceira medida foi a rede de apoio financeiro para segmentos produtivos com grande participação no Produto Interno Bruto (PIB) e na geração de empregos, a exemplo do setor automotivo.

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Uma tragédia de proporções brutais foi evitada, e o ano de 2010 começa com os ventos da recuperação econômica soprando em várias direções. Entretanto, a euforia deve ser temperada com doses de realismo, pois a fatura com as consequências das medidas será apresentada às futuras gerações. Ficou para as nações um rastro de endividamento do setor público que talvez venha a se constituir no principal problema econômico das próximas décadas e que, se não for bem administrado, poderá se transformar em freio para o crescimento da economia e um combustível na fogueira da inflação.

O Brasil saiu bem dessa crise, mas o país não está imune aos problemas da economia mundial e entra o ano de 2010 com uma dívida pública que é um grave problema, sobretudo porque ela impede que o governo faça os investimentos em infraestrutura necessários para suportar o crescimento econômico. Embora as previsões indiquem que o PIB brasileiro deverá ter uma boa taxa de crescimento, a continuação do processo esbarra principalmente na precária infraestrutura, a qual, por ser predominantemente estatal, depende de quanto o governo destina a investimentos, total que tem sido muito pequeno nos últimos anos. A sustentação do crescimento do PIB dependerá do volume de gastos nos setores de energia, portos, transportes, aeroportos, ciência, tecnologia e pesquisa, cujos projetos demoram bastante tempo para entrar em operação a contar da data de início das obras.

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O país precisa retomar urgentemente o andamento da legislação reguladora dos investimentos em infraestrutura, a fim de concluir o chamado "marco regulatório" e tornar atrativo o investimento privado nacional e estrangeiro. Há anos o Brasil tem sido atrativo para os capitais externos que buscam aplicações financeiras, em face da elevada taxa comparativa de juros. O capital financeiro internacional que ingressa no país para aplicações em títulos públicos, títulos privados e ações na bolsa tem contribuído para financiar o governo e o sistema produtivo privado. Porém, neste momento, o que mais o país precisa é de capital externo para aplicação em projetos de infraestrutura, o que requer uma legislação clara e estável.

O segundo obstáculo ao crescimento do PIB é a taxa de câmbio. O preço do dólar é uma variável essencial no desempenho das exportações e tem sido um problema, pois o valor em torno de R$ 1,70 dificulta as exportações e, por consequência, desestimula a produção interna nos setores que vendem para o mercado externo. De vez em quando surgem vozes propondo o retorno do tabelamento da taxa de câmbio, saída que deve ser descartada, pois a liberação do mercado de moedas externas e a livre flutuação do câmbio são importantes em uma economia livre de mercado. Todavia, o governo e o Banco Central não devem ficar inertes e é necessário buscar formas de impedir a deterioração da taxa de câmbio.

O Brasil tem problemas, mas talvez o país nunca tenha estado em tão boas condições para enfrentá-los com sucesso. Com competência, 2010 poderá ser um ano de bom crescimento do PIB, baixa taxa de inflação, emprego em alta e começo da recuperação da infraestrutura nacional. Um sinal de alerta deve ser ligado: as eleições não podem ser pretexto para desarranjos na política econômica nem motivo para a inércia, sobretudo em matéria de continuação do processo de modernização da legislação.