Ainda não se sabe o desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas, ainda antes que ele fosse aberto, já se sabia que, com qualquer resultado, o país terá de recomeçar em outras bases e outra política econômica. A economia nacional está parada, vivendo grave recessão, elevado desemprego e empobrecimento da população.
Em 2001, o economista Jim O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro Goldman Sachs, cunhou a sigla Bric para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China, e o mundo começou a acreditar que esses quatro países iriam se destacar no cenário mundial e seguir longa rota de crescimento. O começo do milênio parecia reservar um novo tempo ao Brasil, e o país dava sinais de que podia superar, de uma vez por todas, a crônica situação de pobreza, após ter perdido várias oportunidades históricas de conseguir tal intento.
A imensa crise econômica por que passa o Brasil foi agravada pela crise política e pela crise moral
O cenário internacional altamente favorável, em razão da explosão dos preços das commodities agrícolas e minerais entre 2002 e 2010, deu ao Brasil a melhor oportunidade de sua história para plantar as bases do desenvolvimento e eliminar a pobreza crônica. Essa “era de ouro” se deu nos dois mandatos de Lula, o que permitiu ao governo bancar a melhoria dos programas sociais que vinham de governos anteriores e fez a imagem positiva de Lula entre a população pobre. Mas, visto de hoje, o país desperdiçou a boa situação, não fez as reformas estruturais necessárias, não melhorou o Estado e não modernizou as relações políticas nacionais.
John Gray, professor de Pensamento Europeu na London School of Economics e escritor de prestígio, fez um alerta que não foi ouvido. Disse ele que “a renovação do Estado surge como a grande tarefa política de nosso tempo, pois, se ela não for realizada, nenhum outro objetivo poderá ser atingido”, afirmação que se aplica perfeitamente à situação brasileira. A imensa crise econômica por que passa o Brasil foi agravada pela crise política e pela crise moral, e tanto internamente quanto no resto do mundo as palavras associadas ao país são recessão, pobreza, violência, ineficiência e corrupção. Como resultado, permanece a incapacidade de o país ter crescimento econômico e desenvolvimento social de forma contínua.
Há muitas tarefas importantes pela frente, mas algumas medidas devem ser tomadas pelo governo imediatamente, como parte de um plano de recuperação nacional. A primeira é um programa consistente para retomar o equilíbrio das contas públicas. Sem resolver o desequilíbrio fiscal – cujas consequências nefastas são o crescimento do déficit público e a explosão da dívida do governo –, outras metas não serão atingidas. A segunda medida é apresentar à nação um plano para fazer o Produto Interno Bruto (PIB) voltar a crescer, o que geraria dois efeitos necessários: redução do desemprego e aumento da arrecadação tributária.
Se for bem-sucedido nas duas tarefas anteriores, o governo – seja ele qual for: Dilma, Temer ou o eleito em caso de queda de ambos – terá condições de obter êxito na terceira tarefa, que é elevar a taxa de investimento nacional como proporção do PIB, a depender ainda da recuperação da confiança no país e da aprovação de legislação clara sobre as regras de participação de capitais privados nacionais e estrangeiros nas obras de infraestrutura. O sucesso das medidas de curto prazo será essencial para dar tranquilidade ao governo a fim de encaminhar a reforma política, a reforma da Previdência Social e a reforma tributária. Isso é o mínimo que o país precisa começar a fazer, se quiser ser desenvolvido um dia.
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