O ano de 2011 ficará marcado como um dos mais importantes na história da economia mundial, principalmente por causa da magnitude da crise financeira dos Estados Unidos e do desmoronamento dos países da zona do euro.
A crise norte-americana atingiu seu ponto alto quando a possibilidade de o governo de Obama não conseguir pagar seus títulos públicos se tornou real. Pela primeira vez, a dívida dos EUA atingiu US$ 14 trilhões, o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) de um ano. Embora seja a mais usada, a comparação da dívida com o PIB é defeituosa, pois o total de recursos entregues ao governo em tributos é apenas uma parcela do PIB; no caso dos EUA, próximo de 25%. Assim, a dívida pública do país equivale à arrecadação tributária bruta de quatro anos.
A situação das contas públicas norte-americanas em 2011 mostrou toda sua gravidade quando o governo Obama informou que os gastos devem superar a arrecadação em 10% do PIB. Esse déficit público nominal eleva a dívida total do governo em US$ 1,4 trilhão. A crise financeira do tesouro dos EUA é gravíssima e é um problema mundial porque os credores dos títulos norte-americanos estão espalhados pelo mundo (somente a China detém US$ 1 trilhão desses títulos) e porque os EUA têm o maior mercado consumidor do planeta.
A crise norte-americana tem várias causas, mas as principais estão ligadas aos gastos com as guerras do Afeganistão e do Iraque e ao colapso do sistema financeiro estourado em 2007/2008. Com a retirada das tropas militares dos dois países, o governo de Obama terá condições de começar a diminuição do déficit público, o que não será suficiente para iniciar a reversão da desordem nas contas do governo. Por isso é provável que os EUA entrem em uma fase de redução de gastos internos, inclusive os de natureza social, sendo possível antever redução na demanda agregada a partir de 2012.
No caso da crise europeia, a causa básica está nas gigantescas dívidas dos 17 países que compõem a zona do euro. Alguns desses países estão diante da possibilidade de não terem dinheiro para honrar seus títulos vincendos, cujo caso mais dramático, como se viu em 2011, é o da Grécia. Também seguem em situação muito ruim Portugal, Espanha, Irlanda e Itália, países que o mercado vem olhando com desconfiança e sem disposição para continuar comprando seus títulos públicos. A raiz da crise europeia está em décadas de déficits públicos crônicos, que foram se acumulando e formaram dívidas públicas elevadas, incompatíveis com o tamanho do PIB e da arrecadação tributária dos governos desses países.
O aspecto mais grave das dívidas dos países da zona do euro é que os governos fabricaram déficits e dívidas enormes não para fazer investimentos capazes de elevar a produção, mas para pagar benefícios sociais concedidos muito além das possibilidades do caixa do tesouro nacional. A tão decantada social-democracia europeia mostrou sua face negativa quando governos populistas concederam benefícios à população com dinheiro obtido por meio de dívida feita fora de suas fronteiras. Dos 27 países da União Europeia, os 17 que aderiram ao euro descobriram, agora, que seus governantes não podem imprimir dinheiro para pagar a conta de seus gastos irresponsáveis e desordenados.
A situação dos EUA e dos países que têm a própria moeda é diferente, pois seus governos podem, em última instância, imprimir dinheiro para pagar suas contas. Talvez muitos façam isso, o que sugere a possibilidade concreta de o mundo assistir à consequência natural da emissão monetária: mais inflação. É uma saída perigosa e capaz de gerar, por si só, outras crises. Mas, diante do desespero, não é impossível que alguns países adotem a solução de emitir dinheiro, inclusive os EUA. Por isso, há analistas e bancos apostando que a inflação média mundial tende a aumentar nos próximos anos.
Ao lado dos EUA e da Europa, a China vem dando mostras de alguma fadiga em seu modelo de crescimento. Os últimos números sobre a economia chinesa indicam que, em 2012, a demanda interna seguirá caindo. As implicações disso são enormes, a começar pelo Brasil, que tem a China como seu maior cliente internacional. Primeiro, a demanda mundial tenderá a diminuir. Segundo, o padrão médio de vida no planeta corre o risco de sofrer alguma redução, principalmente se a inflação global subir. Como a inflação é um imposto sem lei, que empobrece a população e piora a distribuição de renda, não está descartada uma fase de alguns anos de baixo crescimento do produto mundial.
Pelo tamanho de sua economia, vale uma menção sobre o Japão. Possivelmente, esse país continue sua marcha de uma economia travada, pouco dinâmica, na qual há alta taxa de poupança e baixa taxa de consumo. Ou seja, a continuar assim, o Japão não ajudará a puxar a economia mundial para cima, mas também não se espera que cause problemas maiores do que os já existentes. Situação parecida vive a América Latina: nem crises muito graves nem desempenho relevante.
Todas as previsões são frágeis em função de um elemento altamente incerto, que é a dúvida quanto à forma como o governo dos EUA e os líderes da zona do euro irão lidar com os graves problemas de suas economias. Tanto pode haver surpresas positivas como as ações governamentais podem ser um desastre para o crescimento da economia mundial. Até o fim do ano de 2012 será possível saber.
Impasse sobre apoio a Lula provoca racha na bancada evangélica
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Copom aumenta taxa de juros para 12,25% ao ano e prevê mais duas altas no próximo ano
Eleição de novo líder divide a bancada evangélica; ouça o podcast