A exemplo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ordem dos Advogados e da Associação Comercial do Paraná, entre outras entidades de peso e importância, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lançou a versão infantil da cartilha Operação Eleições Limpas.
Trata-se de mais uma das ferramentas de divulgação da campanha de mesmo nome, lançada em maio, com o objetivo de envolver juízes e sociedade na fiscalização do processo eleitoral.
Apresentando a linguagem envolvente das histórias em quadrinhos, a cartilha pretende despertar nas crianças e adolescentes o interesse pela política e o voto. Como ressalta o presidente da AMB, juiz Rodrigo Collaço, além de eleitores do futuro, "as crianças são importantes multiplicadores, levando o debate para dentro de casa".
Na ficção infantil, assinada pelo cartunista Ziraldo, há uma série de oportunidades para abordar episódios como compra de voto, a troca de favores, o voto em branco e propaganda eleitoral, temas que pontilham a realidade dos adultos.
Não são poucas felizmente, posto que uma enérgica reação da sociedade as iniciativas tomadas nos últimos meses e que ganharam força no atual período, por conta e em resposta à avalanche de denúncias de corrupção, descalabro e conduta criminosa no tratamento da coisa pública.
Uma trágica situação que deixa seqüelas indeléveis na vida nacional, passando a alimentar esquemas para a compra de voto, pervertendo a atividade política e desvirtuando completamente o sentido da renovação pelo voto popular.
Voltada às crianças, a cartilha da Associação dos Magistrados Brasileiros é mais do que uma semente de cidadania. Coloca perante a consciência dos adultos a imperiosa tarefa de, em primeiro lugar, tornar permanente a mobilização de hoje para o saneamento da vida pública e do arcabouço eleitoral. Em segundo lugar, investir na educação com prioridade total, o verdadeiro caminho de redenção de um país.
A esse propósito, a escola em primeiro lugar, cabe lembrar o que sempre afirmava o professor e ex-ministro Darcy Ribeiro, inclusive ao receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Copenhague, em 1991: alfabetização é conquista da palavra e da cidadania.
Sem essa conquista, que vem pela educação, todo o esforço hoje, carregando consigo esforços anteriores, como o da heróica reconquista do voto direto, surrupiado pelo regime militar, estará fadado a um rotundo fracasso.
Afinal, não se pode esperar que, a cada eleição, o cidadão consciente e as entidades representativas da sociedade tenham de ser acionados para mais uma jornada em prol da moralidade, da ética e da honestidade das propostas levadas aos palanques.
Na repetição periódica e sistemática contra o estado de coisas, a explosão de repúdio popular deixa de ser avanço. Vira retrocesso.