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Os movimentos políticos para as eleições de outubro estão sendo intensificados à medida que se aproximam as campanhas eleitorais dos candidatos aos cargos eletivos nos poderes Legislativo e Executivo, nas esferas estadual e federal. A eleição deste ano traz algumas diferenças em relação às anteriores, no mínimo por uma razão: o mundo enfrentou uma dura crise, que atingiu a todos os países e impôs pesados sacrifícios e recessão como decorrência da devastação sanitária provocada por um vírus. Praticamente todos os países se viram diante da desorganização do sistema econômico, queda de produção, emprego e renda em níveis elevados e, iniciada a recuperação, surge o fantasma da inflação.
Esse cenário aumenta a importância dos planos de governo dos futuros governadores e do presidente da República, pois é da qualidade de suas propostas e da eficiência da gestão que decorrerá o progresso ou a estagnação do país. No caso do governo federal, mais que um plano detalhado, são os princípios gerais e as macropolíticas que levarão ao país ao crescimento ou ao retrocesso econômico e social. A América Latina transformou-se em laboratório nos últimos 70 anos, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, quanto às políticas que não funcionam e, quando aplicadas, levam rotineiramente ao empobrecimento e atraso. Dito isso, é hora de os candidatos apresentarem seus planos em termos dos grandes princípios e as políticas que pretendem implementar.
O tipo de esquerdismo econômico praticado pelos governos dos países latinos tem provocado baixo crescimento econômico, atraso social, empobrecimento e conflitos sociais, além de deixar portas abertas para a ineficiência e a corrupção
Não é necessário plano ultradetalhado. Pelo contrário, não é preciso mais que umas poucas páginas, desde que destaquem os princípios que o governante pretende cumprir seguidos das grandes políticas. Tomando a experiência dos países latino-americanos, um plano de governo capaz de levar o país ao êxito deve conter compromissos com a proteção das liberdades econômicas e individuais, com a democracia e com o estado de Direito; respeito e proteção ao direito de propriedade; atuação do setor estatal em respeito ao princípio da subsidiariedade; responsabilidade fiscal e controle da dívida pública; estabilidade da moeda e controle da inflação; recuperação e expansão da infraestrutura; estímulo ao empreendedorismo e à iniciativa empresarial; ampliação da abertura ao exterior e o estímulo à importação de tecnologias; enxugamento da máquina estatal; ampliação dos programas de educação e qualificação profissional; prioridade ao combate à pobreza; redução da intervenção governamental no mercado; desregulamentação e desburocratização; e reformas tributária, administrativa e política.
A Fundação Getúlio Vargas, por seu Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), vem apresentando estudos e insistindo na importância da qualidade do capital humano e da produtividade (produção por hora de trabalho) para o crescimento econômico e o desenvolvimento social. O Brasil já está enfrentando dificuldade nesse terreno, principalmente em razão do desperdício do bônus demográfico causado pelo rápido envelhecimento da população. Um efeito dessa situação é que os jovens em idade de trabalhar estão entre os que mais sofreram com o desemprego e o desalento em relação ao mercado de trabalho, causando assim enorme desperdício de força de trabalho e trazendo consequências psicológicas e profissionais aos afetados.
Existe significativa parcela da população fora do mercado de trabalho em função da idade, aposentadoria ou doença. Esse fato, somado à população jovem sem emprego, dificulta fortemente o crescimento econômico. Ademais, na América Latina tem sido corriqueiro que os países que deram guinada à esquerda na economia e desrespeitaram as regras essenciais da democracia política e da economia de livre mercado colham péssimos resultados econômicos e fortes tensões sociais. Definitivamente, o tipo de esquerdismo econômico praticado pelos governos dos países latinos – inclusive alguns abundantes em riquezas naturais, como Argentina e Venezuela – tem provocado baixo crescimento econômico, atraso social, empobrecimento e conflitos sociais, inclusive porque, além da opção errada, os governos têm sido invariavelmente ineficientes e corruptos, salvo honrosas exceções. E, a julgar pela única prévia de propostas de governo divulgada até o momento, a do ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula, a esquerda continuará apostando nas escolhas equivocadas que condenaram países ao atraso onde quer que tenham sido aplicadas.
As eleições deveriam representar boa oportunidade para levar a discussão aos temas relevantes e aos planos dos candidatos. Infelizmente, a maior parte do tempo vem sendo perdida em questões menores, desavenças político-partidárias e agressões verbais, coisa que preenche o tempo dos atores do espetáculo e os exime de tratar dos assuntos sérios, relevantes e decisivos para o futuro do Brasil. Porém, vale a pena cobrar e ter esperança de que, em algum momento, o nível das falas e discursos suba e trate do que é mais importante para o destino da nação.