Neste mesmo espaço, no dia 20 de abril, a Gazeta do Povo comentou sobre o pouco caso que o político, salvo honrosas exceções, sempre demonstrou para com a opinião pública quando toma decisões que afrontam a ética e o decoro. É como se o parlamentar, uma vez investido do mandato popular, passasse a contar com superpoderes que o colocam acima do bem e do mal, facultando-lhe o direito de agir unicamente conforme os próprios interesses e os de seus apaniguados.

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Sobre o perigo de eventuais repercussões negativas que possam surgir, confiam que nada como o tempo para garantir o esquecimento de todas as mazelas porventura cometidas. Afinal de contas, comungam do entendimento de que o eleitor tem memória curta e, portanto, podem pintar e bordar à vontade que lá na frente ninguém vai se lembrar de nada. Bastará retomar, quando da campanha eleitoral, o rosário de promessas e os usuais cumprimentos e tapinhas nas costas para assegurar mais uma legislatura.

A eleição ocorrida na última terça-feira dos novos integrantes do Conselho de Ética do Senado mostra mais uma vez de forma cristalina essa realidade. A atividade precípua do Conselho é a de fiscalizar a conduta dos senadores em relação ao cumprimento de seus deveres fundamentais, de acordo com a ética e o decoro parlamentar. Justamente para exercer essas funções foram indicados alguns parlamentares que ganharam notoriedade e as manchetes dos jornais pela vida pública recheada de histórias e situações mal-explicadas.

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A começar por Renan Calheiros (PMDB-AL), que coleciona em seu currículo cinco processos por quebra de decoro parlamentar. Entre as acusações que precisou responder está a de ter a pensão de uma filha fora do casamento paga por lobista de uma construtora. Além dele, Romero Jucá (PMDB-RR), suspeito do uso de meios ilícitos para obter empréstimos; Gim Argello (PTB-DF), que teria direcionado verbas para instituições fantasmas; e Valdir Raupp (PMDB-RO), acusado de desvio de recursos em Rondônia, também foram eleitos. No total são14 os membros – grande parte com processos na Justiça – que passam a ter a incumbência de investigar a conduta dos 81 senadores que compõem a Casa. Investigação, diga-se de passagem, que não tem acontecido nos últimos anos, com o colegiado funcionando mais como uma confraria que parece servir unicamente para a proteção de seus membros, sejam eles culpados ou não. Um Conselho de Ética que estava desfalcado desde 2009 quando integrantes da oposição se retiraram em protesto contra o arquivamento de 11 processos contra o senador José Sarney, à época e, ainda hoje, presidente da Casa. Pelo passado de certos senadores escolhidos para zelar pelas boas práticas na Casa, não há como não se lembrar da velha história da raposa – ou seriam raposas –, incumbida de cuidar do galinheiro.