Com o fim dos Jogos Panamericanos e faltando pouco menos de um ano para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, vale perguntar o que faz um campeão. Qual o segredo que leva à superação dos próprios limites e à conquista do pódio? A resposta completa a essa questão passa por muitas variáveis, mas há um elemento determinante capaz de explicar não só o sucesso de alguns atletas como também de apontar a chave das pessoas inspiradoras e bem-sucedidas em qualquer área: o desejo pela excelência.

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Quem defende essa ideia não se apoia em mero achismo ou impressões, mas em 15 anos de pesquisa sobre os atletas brasileiros que participaram de Jogos Olímpicos. Katia Rubio, doutora pela Escola de Educação da USP, e uma equipe de 20 acadêmicos conseguiram mapear os 1.796 representantes do Brasil no maior evento do esporte mundial, entrevistando 1,3 mil deles – pouco mais de 340 morreram e alguns preferiram não falar. O estudo foi convertido no livro Atletas Olímpicos Brasileiros, a ser lançado em 25 de agosto, mas Katia adiantou alguns pontos da obra em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo semanas atrás.

A conclusão da pesquisadora é contundente: é o desejo de querer ser um atleta de ponta, de atingir a excelência, que leva à superação. “Por que é que você tem pessoas bem-sucedidas nas suas profissões? Porque elas resolveram sair da média, sendo as melhores no que fazem”, ressalta a professora na entrevista ao jornal paulista. Um atleta que não tem a vontade de superar continuamente as próprias limitações não conseguirá alçar os primeiros lugares do pódio. Da mesma maneira, um estudante incapaz de desejar a nota máxima, que se contenta com o “passar raspando”, dificilmente vai conseguir se destacar no campo do conhecimento. O mesmo vale para qualquer outra área.

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Ter grandes exemplos de pessoas que conseguiram se destacar é estimulante, principalmente para os jovens

Mas, ao menos no Brasil, querer destacar-se dos demais e fugir da média pode ser considerado algo negativo – no mínimo, uma atitude arrogante e gananciosa. O resultado social dessa visão distorcida se reflete no pouco valor dado à excelência individual. Na prática, há pouco estímulo para que as pessoas busquem superar-se e se destacar do grupo, o que é muito ruim do ponto de vista social. Como ressalta Katia, são justamente essas pessoas que querem ser as melhores em suas áreas de atuação as capazes de transformar o mundo e inspirar os outros a superar suas limitações.

Ter grandes exemplos de pessoas que conseguiram se destacar, fazer mais que as demais, é estimulante, principalmente para os jovens. Dos atletas entrevistados pela equipe da pesquisadora, a maioria relata ter sentido pela primeira vez o desejo de representar e conquistar medalhas para o Brasil vendo as vitórias de outros atletas, como Joaquim Cruz, medalha de ouro nos 800 metros nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Assim, quanto mais atletas atingem o nível máximo em suas modalidades e são valorizados por isso, maior a probabilidade de os jovens quererem também ser atletas excelentes. O mesmo pode ser aplicado a diferentes profissões e, talvez ainda mais importante, à prática das virtudes que tanto bem fazem à vida em sociedade. Já quando faltam esses exemplos e socialmente se dá mais valor – refletido muitas vezes em “facilidades” ou incentivos alheios à meritocracia – ao mediano e comum, diminuem-se as chances de se ver jovens buscando a superação.

Quando alguém está determinado a ser o melhor e atingir o grau máximo em alguma área, consegue deixar em segundo plano as limitações estruturais que, embora continuem a existir, podem ser superadas com mais facilidade. Isso não significa que a mera vontade de atingir o ápice em alguma área seja suficiente para conquistá-lo – no caso dos atletas olímpicos, por exemplo, é impensável querer formar campeões sem investimentos mínimos em treinamento e capacitação – mas, sim, que o atleta (e qualquer pessoa disposta a buscar a excelência) passa a enxergar como o maior obstáculo ao seu objetivo a sua própria natureza e aptidões naturais, dedicando-se incessantemente a aperfeiçoá-las até o grau máximo.

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No Pan de Toronto, o Brasil comemorou a conquista de 141 medalhas (41 de ouro, 40 de prata e 60 de bronze) e o terceiro lugar no quadro de medalhas da competição. Quem sabe se o país deixasse de lado o ranço contra a excelência e buscasse, de fato, incentivar a vontade de as pessoas serem melhores, superarem a si mesmas e alcançarem as primeiras posições, poderíamos comemorar vitórias muito mais expressivas. Em todas as áreas.