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Espera-se para amanhã a resposta que o governo federal prometeu aos produtores rurais que, na semana passada, foram a Brasília externar seu desespero diante da mais grave crise que jamais atravessaram. Segundo assegurou no último dia 16 o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o governo responderá às reivindicações do setor com um pacote de medidas que ele definiu como estruturais e suficientes para solucionar os problemas do setor.

"Precisamos criar um mecanismo de sustentabilidade da agricultura e espero que consigamos avançar daqui para frente em direção à recuperação. Os prejuízos são grandes e graves", reconheceu o ministro, acrescentando que as medidas serão voltadas para o plano da próxima safra e englobarão alguns pontos importantes, como tributos, biodiesel e seguro rural.

Lamentavelmente, o ministro não fez referências à presença, neste pacote, daquelas providências que de fato teriam o poder de resolver as causas centrais da crise do agronegócio, isto é, mudanças na política cambial e repactuação das elevadas dívidas do setor – exatamente as duas maiores reivindicações dos agropecuaristas, únicas realmente capazes de lhes proporcionar fôlego.

Embora não se deva desprezar, por insuficiente, o eventual esforço do governo, seria justo esperar mais das autoridades. Até porque, ao não dar soluções suficientes, o governo estará comprometendo de modo muito negativo o futuro do agronegócio brasileiro – setor que, sem nenhuma dúvida, foi um dos principais sustentáculos do processo de contenção inflacionária.

Muito mais do que por efeito direto das altas taxas de juros longamente praticadas, são os preços agrícolas que mais têm contribuído para a estabilidade. Comemora-se, por exemplo, a redução do preço da cesta básica e aproveita-se desse fator para se propagandear a elevação do poder de compra do salário mínimo. Ambos os fatos são verdadeiros, mas seus registros não podem ser creditados apenas aos méritos da política econômica, mas sobretudo às distorções da política econômica que impuseram perdas ao setor agrícola.

Ainda ontem, a Fundação Getúlio Vargas divulgou a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor-Semanal (IPC-S), acusando uma alta de 0,01% na última quadrissemana. Isto é, os preços mantiveram-se absolutamente estáveis. E por que ocorreu isso? Porque houve deflação nos grupos Alimentação e Transportes. Em ambos, o resultado se deve à agricultura. No primeiro, óbvio, porque continuam caindo os preços dos produtos agrícolas que compõem a cesta básica; no segundo, porque houve queda substancial no preço do álcool – derivado da cana-de-açúcar, outro estratégico produto do campo.

Este quadro de bonança política para o governo e de alívio para os consumidores urbanos pode se alterar profundamente – e muito em breve – se não forem resolvidas as questões fundamentais que afligem a agropecuária. À possível falta de compreensão e racionalidade com que o governo se apresentar amanhã com o prometido pacote agrícola, os produtores rurais poderão responder com o desânimo e com a inevitável redução das safras, gerando um cenário de escassez cujo efeito imediato será a elevação da cesta básica. E, em conseqüência, revelar a falsidade da propaganda oficial.

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