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editorial

A força dos jornais

Que o jornal é lido e que ele tem a confiança do brasileiro é fato amplamente conhecido. A Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, colocou o jornal no primeiro lugar no ranking de confiabilidade: 58% dos entrevistados disseram confiar “sempre” ou “muitas vezes” no que leem nos jornais. Os grandes escândalos que abalam as diferentes esferas de governo e os três poderes da República muitas vezes vêm a público graças às redações dos jornais – mensalão, petrolão, Diários Secretos, verbas publicitárias da Câmara de Curitiba, todos se lembram de pelo menos uma denúncia importante em que os jornais tiveram papel relevante. Mas qual é o verdadeiro alcance do jornal? Essa é uma pergunta que está prestes a ganhar uma resposta muito mais confiável. E uma indicação dessa resposta está nas palavras do publicitário Nizan Guanaes, na última quarta-feira, no Maximídia 2015, evento voltado ao mercado publicitário: “Nunca se leu tanto jornal. É um fato”.

O evento marcou o lançamento da Métrica Única de Audiência, um projeto da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que congrega os números fornecidos por três empresas – Ipsos, comScore e IVC – e une os índices de leitura nas plataformas impressa e digital, mas desconsiderando as superposições de leitores que consomem informação em ambos os formatos. Dessa forma, a Métrica Única oferecerá um retrato fiel do verdadeiro alcance dos jornais, superando a velha métrica da tiragem diária impressa que por muito tempo foi o único critério usado para definir o tamanho do público leitor.

Para tomar emprestada a palavra inglesa para jornal (“newspaper ”), o “paper” é acidente; “news” é a essência da atividade jornalística

A realidade dos hábitos de leitura mostra a necessidade de partir para uma nova métrica que avalie o alcance dos jornais. Mesmo quando se considera apenas a versão impressa do jornal – que, de acordo com a mesma Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, é a plataforma principal de leitura para 79% dos entrevistados no Brasil e 66% no Paraná –, olhar o veículo apenas por sua tiragem pode dar a impressão de que o alcance é bem menor que o real. Afinal, um exemplar impresso não atinge apenas uma pessoa, mas várias: ele será dividido nas famílias, nos escritórios, nos consultórios, e mesmo no simpático hábito londrino de deixar no banco do vagão do metrô aquele jornal já lido, para que outra pessoa o pegue e leia também.

E, se o jornal impresso, sozinho, já tem um público leitor ainda maior que o imaginado anteriormente, é o mundo digital que tem potencial para ampliar significativamente as fronteiras do jornal – e já o está fazendo. “Antes, todos nós líamos jornal de manhã cedo todos os dias. Hoje, a gente passa o dia inteiro lendo o nosso jornal”, disse Nizan no Maximídia. Se a versão impressa de um jornal tem seu alcance e vida útil limitados por questões logísticas, as versões digitais não têm fronteiras; atualizadas constantemente, estão à disposição de qualquer pessoa conectada em qualquer lugar do mundo. Prender-se única e exclusivamente ao jornal impresso é ignorar que, para tomar emprestada a palavra inglesa para jornal (newspaper), o paper é acidente; news é a essência da atividade jornalística. Por isso a Métrica Única também avalia a dimensão do público leitor on-line.

E a expansão do alcance dos jornais ocorre não apenas graças aos próprios sites dos veículos, mas também é impulsionada pelas as mídias sociais. Quando alguém fica indignado com as ladroagens e se admira com os bons exemplos, curte, compartilha ou retuíta, quando alguém diz “li no Facebook” ou “li no Twitter”, está na ponta final de uma cadeia de transmissão de informação que, com quase toda a certeza, começou com o trabalho bem feito de uma empresa de comunicação. Muito antes de ser curtida ou compartilhada, a informação bem apurada, a história bem contada, a foto que diz mais que mil palavras partiu de uma redação jornalística. Ao viralizar nas mídias sociais, ela é mais um reflexo da importância do trabalho dos jornais.

Jornais lidos – e mais lidos do que muitas pessoas imaginavam – e confiáveis “têm um papel institucional fundamental na democracia”, como afirmou Nizan no Maximídia. A defesa das liberdades individuais, o estímulo aos bons exemplos, o combate às práticas daninhas que erodem o senso de comunidade, a promoção do bem comum e de soluções para o país que respeitem os marcos institucionais, tudo isso passa pelos jornais. Alexis de Tocqueville e Thomas Jefferson já o sabiam, no século 18. E, mesmo em épocas de velozes inovações tecnológicas, essa é uma verdade que não muda.

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