Esta Quarta-Feira de Cinzas marca o lançamento em todas as arquidioceses e dioceses brasileiras da 47.ª Campanha da Fraternidade, que tem como tema "Fraternidade e a Vida no Planeta". A iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se repete desde 1962 na entrada da Quaresma, tornou-se ao longo dos anos importante instrumento de conscientização comunitária através da discussão de temas de fundamental importância para a sociedade. A campanha deste ano propõe uma reflexão em torno do desequilíbrio ambiental e suas consequências. Não poderia ser mais oportuno o assunto escolhido para 2011, diante do aquecimento global e seus reflexos nas mudanças climáticas em várias partes do planeta. Acrescente-se a esse quadro pouco animador o crescimento demográfico desenfreado, a poluição generalizada e a exploração irracional dos recursos naturais sem uma correspondente política de sustentabilidade.
Secas prolongadas em algumas regiões, chuvas excessivas em outras e temperaturas em constante elevação compõem um quadro de mudanças preocupantes no meio ambiente, não só no Brasil, mas no resto do mundo. Diante desse panorama sombrio, a Campanha da Fraternidade pretende colocar em discussão entre os católicos e, por que não dizer, em toda a comunidade, essas questões. Pela sua relevância, as decisões sobre o futuro do planeta não podem ficar apenas nas mãos dos governantes e cada vez mais os cidadãos devem dar a sua contribuição participando dos debates e usando a força da opinião pública para influenciar nos rumos a serem tomados.
Detentor de uma das maiores biodiversidades do mundo, o Brasil tem um importante papel a cumprir nos esforços gerais para salvar o planeta. E não são pequenos os desafios a serem superados, a começar pela preservação da Amazônia, exposta a um processo contínuo de devastação. Nesse particular, não há como dissociar da questão ambiental o fator econômico. O crescimento do país, a partir da exploração de seus recursos naturais, deve ser acompanhado por ações que garantam a sustentabilidade, com legislações que permitam adequar desenvolvimento e proteção ambiental. Se leis existem, a dificuldade maior no Brasil é garantir o seu efetivo cumprimento, o que na prática muitas vezes deixa de ocorrer. A consequência disso são as frequentes notícias estampadas nos jornais e mostradas pela tevê de desastres e agressões à natureza provocados pela ausência de políticas ambientais eficazes. Sofre o meio ambiente e sofre o homem como parte do ecossistema, como no ocorrido no início do ano na região serrana do Rio de Janeiro, onde os temporais provocaram deslizamentos que deixaram centenas de mortos e milhares de desabrigados.
Em dezembro de 2009, quando do encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Copenhague, o então presidente Lula destacou que o Brasil deverá antecipar em quatro anos as metas de redução de desmatamento na Amazônia (80%) e a emissão de gases causadores do efeito estufa entre 36% e 38%. Inicialmente, previa se alcançar tais patamares apenas em 2020. Se o discurso sairá da mera retórica da boa intenção para se concretizar somente o tempo dirá. De qualquer forma o tempo urge. Não só para o Brasil, mas para todos os países, em particular os mais desenvolvidos, reconhecidamente aqueles que mais poluem e que mais resistências impõem às necessárias mudanças para salvar o planeta.