| Foto: Stephane de Sakutin/AFP

A globalização não é assunto novo. A história registra vários momentos em que os países caminharam para abrir seus mercados com vistas ao aumento da importação e exportação de bens e serviços. No começo do século passado, o comércio entre as nações havia crescido e se tornou elevado para os padrões da época. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a necessidade de reconstruir a infraestrutura nos países prejudicados pela guerra e a urgência em suprir o mundo de alimentos levaram ao aumento do comércio exterior, período em que os Estados Unidos ampliaram enormemente sua atuação mundial, especialmente por meio de suas empresas multinacionais.

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Os planos de reconstrução da infraestrutura exigiam financiamento, domínio de tecnologia e capacidade gerencial. Em 1944, foi adotada a moeda internacional única no comércio exterior – o dólar – e foram criados dois órgãos importantes: o Banco Mundial, com a missão de financiar projetos e obras, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com a missão de conceder empréstimos e monitorar as economias dos países tomadores de empréstimos estrangeiros. Nesse cenário, os Estados Unidos tornaram-se a nação dominante na economia mundial, com ampliação de suas exportações e importações, além da já referida expansão das empresas norte-americanas em várias partes do mundo.

A globalização deverá passar por uma fase de contração cujas consequências e desdobramentos não são facilmente previsíveis

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O caminho percorrido pela economia mundial nas primeiras sete décadas do século passado foi uma espécie de globalização – no sentido de tendência para a formação de um mercado global único. Mas, na década de 1970, o setor público faliu em várias partes do mundo em razão dos elevados déficits fiscais e da expansão exagerada e inadequada de empresas estatais. A crise dos anos 70 levou à necessidade de reduzir gastos públicos, diminuir os déficits fiscais, controlar a dívida do governo e privatizar empresas estatais deficitárias, ineficientes e corruptas.

Nos anos 1980, o mundo assistiu a programas radicais de desestatização, ampliação da liberdade econômica, desregulamentação, menor intervenção do governo na vida dos indivíduos e abertura para o comércio internacional, principalmente a partir da experiência liberal nos Estados Unidos e na Inglaterra. Começaram a nascer sementes de blocos regionais, acordos internacionais e propostas de harmonização de normas comerciais e de tributação, colocando a palavra “globalização” na moda. O ápice desse movimento se deu com a implantação da União Europeia – bloco hoje com 28 países, dos quais 19 adotaram o euro como moeda única.

Porém, nestas duas primeiras décadas do século 21, dois fenômenos começam a ferir a ideia tão badalada da globalização. O primeiro é – novamente – a falência fiscal de governos, incluindo os Estados Unidos, a América Latina e alguns da zona do euro, como é o caso extremo da Grécia. O segundo é o terrorismo internacional, tragédia política e humana que está dando combustível para propostas de fechar fronteiras, dificultar a imigração e adotar políticas protecionistas contra importações, cujos exemplos mais extremos são a proposta de construir um muro na fronteira México-Estados Unidos e a saída do Reino Unido da União Europeia. O resultado é a fragilização da globalização, movimento que deverá passar por uma fase de contração cujas consequências e desdobramentos não são facilmente previsíveis. No Brasil, a classe política, mergulhada em crise jurídico-moral, parece não estar interessada em debater esses assuntos em alto nível. Como sempre, o Brasil esperará a tempestade chegar para depois ver o que fazer.

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